Atividades

Aspectos sociológicos da música popular brasileira

Ciclo As mais pedidas: a música mais popular brasileira

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Programa


Gêneros musicais extremamente populares como o gospel, o pagode, o axé, o sertanejo, o forró, o funk e o tecnobrega são constantemente julgados como gêneros de qualidade inferior, dissociados da chamada “MPB”. Alguns desses gêneros, em sua vertente contemporânea, ainda são associados à cultura de massa e contrapostos a uma suposta versão “de raiz”. O presente curso objetiva discutir os aspectos sociológicos desses gêneros musicais, problematizando justamente as críticas das quais são alvos, a relação com a cultura de massa, seus impactos econômicos e sua dimensão política. 

03/02 - O mercado da música gospel. Com Raquel Sant'Ana

Nas últimas décadas os evangélicos têm ocupado um espaço crescente na esfera pública, seja por uma atuação cada vez mais organizada na política institucional, por sua presença midiática ou mesmo como consequência de seu aumento numérico. Suas especificidades os tornaram um mercado importante a ser explorado para diferentes fins. O número de evangélicos no Brasil passou de 9% da população em 1991 para 22,2% em 2010, sendo esse crescimento constatado especialmente entre as classes mais baixas e a partir das igrejas pentecostais e neopentecostais. Houve, assim, uma mudança no perfil dos evangélicos brasileiros, que durante boa parte do século XX foram identificados com os chamados evangélicos de missão e tiveram na atuação em frentes educacionais sua presença mais marcada na esfera pública. Nesse cenário, a música gospel, identificada com esse segmento, tem sido apontada como um dos gêneros musicais mais vendidos no país e importante forma de manifestação dos evangélicos no espaço público. Esta comunicação tratará das tensões e disputas que constituem o cenário de música gospel brasileira, especialmente em sua interface com projetos de nação e com a ideia de Cultura.

05/02 - Pagode romântico e samba de “raiz”. Com Felipe Trotta 

Há cerca de 30 anos o termo “pagode” vem sendo empregado para designar um tipo peculiar de samba, de grande sucesso comercial. Percorrendo o histórico recente dos sambas e artistas identificados com o pagode, podemos identificar estilos e estéticas que ampliaram o universo temático e sonoro do gênero, permitindo uma ampla projeção comercial. Do fundo de quintal de Jorge Aragão e Almir Guineto, passando pelas carreiras de Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, pelos românticos Raça Negra e SPC até desembocar na alegria ousada de Thiaguinho, o pagode se reinventa constantemente produzindo narrativas de felicidade e convívio social ligado às ideias de negritude e periferia. Mas esse longo sucesso não ocorre sem conflitos. Alçado à condição de gênero popular nacional, o pagode costuma ser duramente atacado pela crítica musical, pois afasta-se de um viés tradicionalista do samba e negocia valores e estéticas com a música pop nacional e internacional. Nesse jogo de valores, ideias e pensamentos sobre música, a sociedade brasileira elabora modos de ser e pertencer através de repertórios que circulam cotidianamente pelas rádios, TVs e no showbizz.  


06/02 - Axé music e as transformações no carnaval baiano. Com Paulo Miguez

O axé music, gênero nascido na Bahia, sofreu muitas influências em sua criação, mas explodiu no Brasil inteiro em meados da década de 80 com a música Fricote, na voz de Luiz Caldas. A década de 90 observou a ascensão de cantoras como Daniela Mercury e Ivete Sangalo, que articulam a tradição da música baiana negra com a estética pop. Já o pagode baiano tinha como marca as coreografias sensuais. O professor Paulo Miguez analisará a relação do axé com os afoxés baianos, os blocos afro e os trios elétricos; a apropriação do axé pela grande mídia e pelo mercado; os conflitos entre interesses da ordem mercantil e a lógica cultural que se apresentam no carnaval baiano.

10/02 - Música sertaneja e a história política do Brasil. Com Gustavo Alonso

A apresentação abordará a modernização da música rural no Brasil através da análise atenta da música sertaneja. Frequentemente ignorada na academia e pouco levada a sério por jornalistas e críticos musicais, a música sertaneja é um ótimo referencial para se entender a história do Brasil dos últimos 60 anos. De "Índia", gravada por Cascatinha & Inhana em 1953, a "Ai se eu te pego", que obteve enorme sucesso com Michel Teló em 2012-2013, veremos o desenvolvimento deste gênero regional que tornou-se nacional nos anos 90 e que recentemente atingiu as paradas de sucesso mundiais. Dos anos 1950 aos anos 2000, percorreremos a história da música sertaneja, do repúdio, demarcação e periferização da produção, até a consagração, mercantilização, nacionalização e a institucionalização do gênero. Tudo isso será analisado nesta atividade de forma concisa e direta, através das músicas mais importantes do gênero. 

12/02 - O circuito do forró em São Paulo. Com Daniela Alfonsi

Serão apresentadas as controvérsias que envolvem músicos, produtores e públicos apreciadores no que diz respeito ao forró, seus bailes, danças e músicas. A partir das denominações que se atribuem aos estilos desse gênero musical (como forró eletrônico, pé-de-serra e universitário), a aula discutirá os significados atribuídos a tais termos em diferentes contextos e por atores distintos na disputa pela definição e legitimação da maneira de se tocar o forró. Mais do que distinguir um tipo específico de fazer musical, essas classificações ajudam a configurar gostos, opiniões e a organizar os bailes de forró presentes na cidade de São Paulo. Esses bailes ocorrem em vários bairros da metrópole e abrangem diferentes circuitos e classes sociais. As classificações dadas ao forró ajudam também a delimitar os significados dessas classes sociais em contextos distintos e relacionar o que se faz no Sudeste do País ao que é produzido no Nordeste, local tido como origem do gênero. Assim, tentar-se-á compreender como e por que se configura essa associação entre um gênero de música popular, uma forma de lazer e a hierarquização dos espaços onde ocorrem suas práticas, a partir do ponto de vista da distinção social, e como se dá, a partir da confluência dos três elementos (música, dança e baile) e das distintas representações de sua origem, a produção social da diferença que separa músicos, públicos e demais apreciadores em espaços e circuitos diversos.

24/02 - Os fluxos e a criminalização do funk. Com Renato Barreiros e Danilo Cymrot

Exibição do documentário No Fluxo, que mostra os bailes funk de rua de São Paulo que, chegando a 400 por final de semana, tornaram-se o maior fenômeno entre a juventude de periferia. A exibição do documentário será sucedida por um debate sobre a importância que esses bailes têm para a juventude de São Paulo, pois o baile é um dos principais locais de convívio onde ocorrem relações sociais diversas, e sobre a repressão policial que sofrem. A partir do fenômeno desses bailes de rua surgiu uma nova cena funk em São Paulo que deixou de lado o funk ostentação e trouxe de volta o funk proibidão, pornográfico e a grande novidade: o Passinho do Romano, nascido em um fluxo de rua. Dessa forma, podemos entender que os fluxos tem hoje papel central na vida do jovens, sendo o palco onde se manifestam culturalmente. 

26/02 - Estigma, cosmopolitismo local e tecnobrega. Com Paulo Murilo Guerreiro do Amaral

O tecnobrega corresponde a uma modalidade de música eletrônica considerada de “mau gosto” estético, associada às periferias da cidade de Belém (Capital do Pará, no norte do Brasil) e a indivíduos/grupos sociais pertencentes a esses espaços urbanos. Consiste basicamente no resultado de manipulações computacionais de timbres, ritmos e melodias realizadas em estúdios por produtores musicais, ainda que o tecnobrega não se encontre relacionado exclusivamente à síntese digital sonora. O seu surgimento/assentamento local, nos anos 2000, remonta o estabelecimento do brega no Brasil, a partir da década de 1960, como um tipo de música alçada ao plano do “povo” através de um discurso midiático nacional de distinção sociocultural concebido no seio das classes médias urbanas emergentes. Igualmente ao brega, o tecnobrega (uma techno-versão do brega, pelo que o próprio nome sugere) também se destaca como música estigmatizada, tanto quanto personagens ligados ao universo da produção musical local carregam o estigma de ser “brega”. Por outro lado, produtores, cantores, compositores, entre outros atores sociais que integram a cena musical brega de Belém do Pará se servem da condição de estigmatizados para erigir o tecnobrega como música de resistência, ao mesmo tempo contestando a cultura “dominante” e nela se espelhando. De dentro do campo desta música, a aula apontará e discutirá a ressignificação daquilo que em Belém do Pará se vulgarizou como música “degradada”, partindo da hipótese de que o tecnobrega consiste em expressão de caráter cosmopolita, mesmo sendo brega.

(Foto: Luiz Maximiano)
 


Inscrições a partir do dia 26/01, às 14h.

Palestrantes

Paulo Miguez

Paulo Miguez

Doutor em Comunicação e Culturas Contemporâneas (UFBA). É professor associado do IHAC e pesquisador do CULT , ambos da UFBA. Foi Assessor Especial do Ministro Gilberto Gil, Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, de 2003 a 2005.
(Foto: Acervo pessoal)

Renato Barreiros

Renato Barreiros

Diretor e produtor cultural. Dirigiu o documentário Funk Ostentação. Criou o primeiro festival de funk de São Paulo e organizou a primeira Batalha do Passinho do Romano. (Foto: João Monteiro)

 

Daniela Alfonsi

Daniela Alfonsi

Diretora técnica do Museu do Futebol. Doutoranda em Antropologia Social pela USP. Integrante do NAU - Núcleo de Antropologia Urbana da USP e do LUDENS - Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas - da USP. (Foto: Acervo pessoal) 

Raquel Sant'Ana

Raquel Sant'Ana

Historiadora e mestre em antropologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Foto: Acervo pessoal)

Felipe Trotta

Felipe Trotta

Musicólogo, doutor em Comunicação, professor de Estudos de Mídia da UFF, pesquisador do CNPq e da Faperj. Foi vice-presidente da Seção Latino-Americana da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular (IASPM-AL, 2010-2014) e é autor dos livros O samba e suas fronteiras (Ed.UFRJ, 2011) e No Ceará não tem disso não (Ed. Folio Digital, 2014). (Foto: Gabi Moreira)

Gustavo Alonso

Gustavo Alonso

Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Música da UFPE. Doutor em História pela UFF. Autor de "Cowboys do Asfalto: música sertaneja e modernização brasileira" (2015), tese publicada pela editora Civilização Brasileira.
(Foto: Editora Record)

Paulo Murilo Guerreiro do Amaral

Paulo Murilo Guerreiro do Amaral

Doutor em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Artes da Universidade do Estado do Pará. (Foto: Acervo pessoal)

Data

03/02/2015 a 26/02/2015

Dias e Horários

Terças, quintas e sexta, 19h30 às 21h30.

Local

Rua Dr. Plínio Barreto, 285 
4º andar do prédio da FecomércioSP
Bela Vista - São Paulo/SP
 

Valores

R$ 18,00 - credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes
R$ 30,00 - pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante
R$ 60,00 - inteira
*O valor da inscrição é válido para todo o ciclo.