Cinema, gênero e memória

 

Consideramos a década de 1970 como um marco histórico na constituição de um campo específico de indagações sobre a linguagem cinematográfica marcada pela crítica feminista. Tal crítica surgiu aliada à análise do suporte fílmico e de um debate estético e político realizado no âmbito do cinema como uma mídia dinamicamente localizada entre a arte e a indústria  Neste ciclo de debates, nosso objetivo primordial é tornar acessível ao público uma bibliografia de cunho internacional, infelizmente ainda não traduzida no Brasil, e também local, com foco na reflexão  sobre a arte de analisar um filme e seus potenciais críticos a partir de um olhar feminista. Questões que emergiram na época e são ainda pertinentes, dizem respeito às estratégias de pensar e analisar o filme a partir da categoria de gênero.

 

Seria a psicanálise um bom arsenal conceitual para pensar a atuação de mulheres e as tramas/disputas de gênero nas narrativas? Pode-se ler um filme como se lê um texto? A semiótica seria uma boa estratégia para pensar as questões de gênero como foi para pensar a estética fílmica? Quais os impactos da produção fílmica independente e da participação de mulheres no desenrolar da própria linguagem cinematográfica?  

Quais foram os filmes (internacionais e nacionais) que fizeram história na construção de personagens femininas marcantes? Quais as questões temáticas e políticas que realizadoras trouxeram para a produção fílmica? Enfim, esta primeira parte do curso é uma investigação teórica, a partir de leitura e debate de textos e filmes que problematizam esta trajetória de construção de uma filmografia e crítica que privilegie o universo feminino.  No entanto, consideramos que atrelado ao estudo conceitual, é importante um contato direto com cineastas que viveram as dificuldades e os desafios de tentarem contar suas histórias a partir de uma perspectiva crítica.

Neste sentido, a segunda parte deste curso se divide em três momentos distintos, cada um deles um encontro com as cineastas convidadas e seus respectivos filmes. As cineastas apresentarão suas respectivas obras, abordando-as da concepção à realização, revelando os caminhos seguidos e as potencialidades da linguagem cinematográfica para um trabalho mais inserido nas lutas políticas subjetivas no que diz respeito à produção da memória.