Atividades

As facetas da comédia expressas no teatro, na pintura e na prosa.

Da paródia ao paradoxo: a comédia antiga e suas representações

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Programa

Da Grécia antiga ao Brasil atual, a comédia sempre fascinou o público; basta ver o interesse que suscitam ainda os programas humorísticos na televisão, os chamados "stand-ups" e "pastelões" no teatro, as comédias românticas no cinema, sem contar as esquetes e tiradas satíricas na internet. Mas poucos veriam semelhanças dos filmes de Chaplin ou de Mazzaropi com as peças de Aristófanes. Mudam as épocas, mudam as artes evidentemente: na era da indústria cultural, a comédia dificilmente passa de um entretenimento adocicado que apela ao riso fácil para fisgar a plateia, ao passo que no mundo antigo, regrado por convenções poéticas e retóricas, ela divertia ridicularizando costumes e instituições. 

Este curso aborda vários aspectos da comédia antiga, propiciando um instrumental histórico e instrutivo acerca de como as artes acionam o riso para divertir e advertir, já que carrega um sentido moralizante: escancara o ridículo do humano sempre que este se entrega às futilidades narcísicas ou quando a barbárie social se alastra e a estupidez se normaliza como hábito. O homem difere do asno justamente porque pode rir de si mesmo, estima um antigo autor muito moderno.

Organizado em 6 encontros, investiga as principais formulações do cômico antigo (antes do romantismo no século XVIII) em territórios culturais diversos: na filosofia de Aristóteles,   na poesia desabrida de Arquíloco, no teatro mordaz de Aristófanes, nas narrativas fantásticas de Luciano, nas sátiras agressivas de Juvenal e nas pinturas diabólicas de Bosch.

 

Programa:


Encontro 1. Aristóteles e os sentidos da comédia. 

Além de tratar da aparição da comédia, comenta-se também sua conceituação em autores gregos e romanos, além da obra dos primeiros comediógrafos conhecidos, como  Epicarmo (c. 540 a 450 a.C.). Por fim, duas modalidades do riso: o riso sem dor e riso com dor.

 

Encontro 2. A invectiva de Arquíloco.

Arquíloco de Paros (séc. VII a.C.) forma com Homero e Hesíodo a  tríade mais  antiga da poesia grega, da qual ele se singulariza com seus versos jâmbicos. Sua poesia derrisória e viperina aparece em seu famoso relato contra Licambes e suas filhas, bem como nas fábulas de animais.

 

Encontro 3. Aristófanes e a performática paródica em Atenas.

São estudados os procedimentos e técnicas dramáticas do teatro cômico ateniense grego a partir de algumas obras de Aristófanes: As nuvens (423 a. C.), As aves (414 a.C.),  e As rãs (405 a. C.), bem como em pinturas de vasos e em estatuetas de terracota. 

 

Encontro 4. A sátira latina de Horácio e Juvenal.

Uma etimologia conhecida informa que a sátira vem de "saturar" significando miscelânea ou mixórdia, como o Sátiro grego: mistura de homem com bode. Oposta assim ao "politicamente correto" atual, a sátira satura os olhos com aspectos ordinários da vida imperial tendo uma mensagem moralizante: é Juvenal que censurando a frivolidade dos romanos alcunha a expressão: « panem et circenses ».

 

Encontro 5. Luciano de Samósata: monstros e viagem à lua.

Conhecido por sua implacável ironia, Luciano é um dos escritores helenísticos mais lidos e imitados desde o Renascimento até o século XIX, sobretudo por suas viagens à lugares fantásticos (lua, Monte Olimpo, Hades), as quais são revisitadas por Rabelais, Bergerac, Swift, Campanella, Voltaire, etc. Do seu legado de oitenta obras, duas serão comentadas: Diálogo dos mortos (165-180 d.C.) e Narrações verdadeiras (165-180 d.C.).

 

Encontro 6. Bosch e deboche: uma pintura sobre as vilezas humanas.

Embora a obra de Bosch esteja associada desde o Surrealismo com o onírico e a associação livre de ideias, ela operava em consonância com as práticas devocionais de sua época, tirando partido pictórico de provérbios populares flamengos. Os trípticos notórios do pintor exemplificam sua pedagogia de correção moral: O jardim das delícias (c. 1500, Museo del Prado, Madri), O carro de feno (c. 1500-02, Museo del Prado, Madri),  As tentações de santo Antão (c. 1500, Museu de Arte Antiga, Lisboa).


(Foto: O jardim das Delícias Terrenas - Hieronymus Bosch - 1504 - Museu do Prado)

Inscrições a partir do dia 23/02, às 14h.

Palestrantes

Denis Donizeti Bruza Molino

Denis Donizeti Bruza Molino

Mestre em Filosofia pela USP, com estudo em instituições estrangeiras, como o Art Institute of Chicago/ EUA (Gabinete de estampas) e Museu do Louvre / Paris. Publicou As tentações de Santo Antão de Gustave Flaubert pela Editora Iluminuras, em 2004. (Foto: Patrícia Brandstatter)

Bibliografia

Aristófanes. A greve do sexo (Lisístrata), A revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, trad. Mário da Gama Kury, 1996.

Aristófanes. As nuvens, Só para mulheres, Um deus chamado dinheiro.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, trad. Mário da Gama Kury, 1995.

Aristófanes. As vespas, as aves, as rãs. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, trad. Mário da Gama Kury, 2000.

Aristóteles, Poética. Lisboa: Imprensa Nacional, trad. Eudoro de Souza, 1998.

BOSCH. A obra de pintura. köln, Taschen, , trad. Casa das línguas, 2010. 

 

CORRÊA, Paula da Cunha. Armas e varões: A guerra da lírica de Arquíloco.  São Paulo: Unesp, 1998.

CORRÊA, Paula da Cunha. Um bestiário arcaico - fábulas e imagens  na poesia de Arquíloco. Campinas: Unicamp, 2010.

Horácio, Sátiras. Paris: Les  Belles lettres, trad. francesa François Villeneuve, 1995.

Juvénal. Sátiras. Paris, Belles lettres, trad. francesa P. de Labriolle et F. Villeneuve, 1996.

SAMÓSATA, Luciano de. Obras, tomo II. Paris: Belles lettres, trad. J. Bompaire, 2012.

VIEIRA, Antônio. As lágrimas de Heráclito. São Paulo: Editora 34, 2001.

Data

11/03/2015 a 15/04/2015

Dias e Horários

Quartas, 19h30 às 21h30.

Local

Rua Dr. Plínio Barreto, 285 
4º andar do prédio da FecomércioSP
Bela Vista - São Paulo/SP

Valores

R$ 18,00 - credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes
R$ 30,00 - pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante
R$ 60,00 - inteira

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