Invisíveis: histórias de mulheres

“Eu asseguro que alguém se lembrará de nós no futuro”. Foram necessários quase três mil anos para que essa frase da poeta Safo de Lesbos se convertesse em realidade. Gerações e gerações de mulheres viveram confinadas no silêncio, na ignorância e na submissão ao poder masculino. Mulheres criadoras e sábias, escritoras, artistas ou compositoras se rebelaram contra a ordem imperante e tiveram que viver entre dúvidas, temores e perseguições. Entretanto, algumas chegaram a obter reconhecimento de seus contemporâneos como Hildergard von Bingen, conselheira de papas e imperadores, Christine de Pizan, cronista da história da França, Beatriz Galindo, preceptora de latim de Isabel a Católica, Sofonisba Anguissola, retratista na corte de Felipe II e tantas outras. 

 

“Ainda que não apareçam em antologias, conferências, livros dedicados a personagens notáveis e legendários, estas mulheres constituíram uma verdadeira tradição subterrânea e subconsciente na medida em que sucessivas gerações de filhas rebeldes e aventureiras as redescobriam e reinventavam.” (Showalter,2002:14)

 

As mulheres que se converteram em ídolos feministas são conhecidas por seu valor e pela variedade de matizes com que lutavam para levar uma vida plena, que rompiam todas as regras e seguiam sua própria senda: eram mulheres decididas a experimentar o amor, as vitórias e se empenharam para que suas vidas fossem relevantes. Ao longo dos séculos as mulheres buscaram na mitologia e na religião ideias sobre o estilo épico de vida feminista, estudando as Amazonas, Diana de Éfeso, Cassandra, Penélope, as vezes buscando a vida de alguma messias feminista. Este desejo frustrou algumas mulheres, mas outras o incluíram em seu projeto de vida. Em 1917, a antropóloga Ruth Benedict planejou escrever um livro que intitularia “Aventuras de mulher!”. Desejava falar sobre a inspiração tão intensa que recebia da vida de mulheres mais valentes que fizeram de sua vida uma aventura apaixonante.

 

 “Reivindicar nossos ídolos feministas é um passo necessário em nossa memória coletiva. No século XX as mulheres conseguiram enormes benefícios, mas ainda carecemos de um sentido do passado feminista. Outros grupos celebram suas figuras heroicas, mas as mulheres não têm um dia oficial para comemorar o nascimento ou a morte de nossas grandes heroínas. Tanto se viveram no século XVII, XIX ou XX, todas viveram a frente de seu tempo. (...) necessitamos saber mais sobre os modelos de nossa própria tradição para atuar, e para discutir sobre suas escolhas cuja inquietude e espirito de aventura fazem delas nossas heroínas, nossas irmãs, nossas contemporâneas.” (Showalter,2002:15)

 

Este curso tem como objetivo fazer um percurso pela vida e a obra de algumas mulheres que decidiram livremente não renunciar a sua forma de trabalhar, pensar, amar, inclusive morrer, que lutaram por sua liberdade de expressão e forjaram, assim, a tradição intelectual feminista. Mas a história as apagou de seus registros, tornando invisíveis suas obras e as relegando ao silêncio do qual elas tentaram fugir. Tentaremos rastrear a vida de mulheres criadoras com o objetivo de colocar em relevo suas obras e a permanente hostilidade contra a cultura feminina na qual viveram e desse modo, construir uma genealogia de mulheres excepcionais que precederam ao longo dos séculos as mulheres criadoras da sociedade atual.