O cinema documental de Eduardo Coutinho

 

Ciclo discute os procedimentos de criação e as propostas entrelaçadas à concepção estética e política, contidas no cinema documental de Eduardo Coutinho.   

 

13/07 - Eduardo Coutinho, linguista selvagem do documentário brasileiro.

Dos seus documentários em locações reais aos filmados em ambientes fechados, o cineasta Eduardo Coutinho investigou incansavelmente os modos de falar de seus personagens, suas invenções verbais, suas possibilidade de narrar, captando nesse movimento a complexidade e as modulações da língua portuguesa de camadas diversas da população brasileira.  Vamos discutir essa dimensão fundamental do cinema de Coutinho em fragmentos selecionados de seus filmes desde Santo Forte (1999), assim como os dispositivos cinematográficos que organizou a cada filmagem para esse fim. Abordaremos ainda Ultimas conversas (2015), documentário editado a partir do material audiovisual daquele que seria o último filme do diretor - montado postumamente por Jordana Berg e concluído por João Salles.

Com Consuelo Lins

 

20/07 - A construção da personagem no documentário de Eduardo Coutinho. 

O documentário de Eduardo Coutinho pode ser dividido em três fases consecutivas, mas não excludentes. A primeira fase diz respeito à iniciação do diretor, oriundo do cinema de ficção, no campo do documentário, no programa Globo Repórter, da TV Globo, de 1975 a 1984. A segunda, inicia com o filme Cabra Marcado para Morrer (1984), quando Coutinho começa a carreira de cineasta independente, e compreende filmes e vídeos realizados até o final dos anos 1990. Santo Forte (1999) demarca a fronteira de passagem para a terceira e última fase, cuja principal característica é uma aposta radical do diretor na performance oral das personagens.  Essas três fases sinalizam um percurso, mesmo que involuntário, de construção de um modo próprio de pensar e fazer documentários. Em cada uma delas é possível identificar características estético-narrativas dominantes e processos específicos de construção de personagens. O objetivo da palestra será o de discutir esse percurso do documentário de Coutinho identificando as características gerais e a função das personagens em cada fase, no intuito de propor uma espécie de taxonomia da personagem coutiniana.

Com Cláudio Bezerra

 

 

27/07 - Entre agora e outrora: a elaboração da história no cinema de Eduardo Coutinho. 

A filmografia contemporânea de Eduardo Coutinho é marcada pela centralidade da entrevista e pelo registro do encontro presente entre o diretor, sua equipe e os sujeitos filmados. Esse cinema abriga, entretanto, um projeto mais raro, mas muito denso, de elaboração da história. Propomos investigá-lo a partir do cotejo entre dois documentários separados por 20 anos - Cabra marcado para morrer (1984) e Peões (2004). Eles nos permitem observar as iluminações recíprocas ensejadas pela montagem de Coutinho.  Pois é precisamente a dinâmica de mútua inteligibilidade que nos interessa observar nos dois filmes. O título em inglês de Cabra marcado para morrer, Twenty years later, também valeria para Peões. Em ambos, o intervalo de 20 anos entre os acontecimentos rememorados e a filmagem é fundamental, definidor de abordagem e narrativa. Meditar sobre a história, na obra de Coutinho, é articular um "agora" e um "outrora", "reescrevendo" do presente as histórias de lutas populares passadas, mas não remotas. Os dois filmes apresentam essa história do ponto de vista de trabalhadores comuns, tecida por rememorações, balanços afetivos e versões pessoais dos acontecimentos passados.

Com Claudia Mesquita