Mutações
Adeus ao Neolítico

Programa

Nesta palestra, Pascal Dibie discute a sensação de esgotamento de nossa época, marcada por apagamentos e pelo enfraquecimento dos vínculos humanos. Vivemos, segundo ele, uma "Baixa Época", um tempo de transição profunda, em que deixamos para trás o Neolítico e seu lento e sólido modo de ser. Já não vivemos em sociedades de mitos, onde o passado iluminava o presente e orientava o futuro. Agora, mal sabemos quem somos e quase não conseguimos imaginar o que seremos.

A nostalgia ainda ocupa boa parte do pensamento humano, mas por quanto tempo? O sentido do humano e das humanidades parece ruir à medida que perdemos a noção mesma de viver em sociedade. Finda a era das utopias e da esperança em projetos coletivos, o mundo se torna praticamente irreparável. O ecossistema está alterado, o envenenamento do planeta avança e nossas vidas se fragmentam em instantes individuais, sobrepostos e solitários.

Na era digital, a virtualidade instaura um paradoxo: nos exibimos o tempo todo, mas não sabemos para quem. Vivemos uma espécie de masturbação coletiva sem encontro, sem presença, acumulando momentos que não se ligam em uma narrativa comum. A promessa de onipotência biotecnocientífica chega ao seu auge, impondo uma nova relação com o mundo baseada no controle, na manipulação e em experimentações contínuas.

A política, nesse cenário, perde sua centralidade. A democracia grega, baseada no debate coletivo e na experiência comum, é substituída por uma vida cotidiana regulada por normas, moratórias e dispositivos técnicos. O político torna-se um "objeto perdido", capturado pela lógica econômica e financeira, enquanto somos atravessados por programas de dominação, fundamentalismos, utilitarismos ecológicos e particularismos de todo tipo, todos subordinados à rentabilidade.

Dibie nos convida a lembrar aquilo que perdemos: o "nós" do Neolítico. Um nós feito de corpos e filosofias, de gestos e invenções, de olhares, palavras e objetos simples que prolongavam o corpo e criavam vínculos com o mundo. Esse nós, mesmo em desacordo, sustentava uma humanidade compartilhada. Hoje, restam fragmentos, mas talvez seja nesses restos que ainda possamos reencontrar sentido.

Esta programação integra o ciclo Mutações Constelações Imaginárias, com curadoria de Adauto Novaes.

As inscrições podem ser feitas a partir das 14h do dia 26/8 no site do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc ou através do nosso app.

Após o início da atividade não é possível realizar inscrição. O cadastro é pessoal e intransferível.

O pagamento pode ser feito através do cartão de crédito, débito ou em dinheiro. Trabalhamos com as bandeiras Visa, Mastercard, Elo e Hipercard.

Ao término do curso, você poderá solicitar sua declaração de participação pelo e-mail declaracao.cpf@sescsp.org.br
A declaração será encaminhada em até 30 dias

O cancelamento poderá ser realizado com até 48 horas antes do início da atividade, por email: atendimento.cpf@sescsp.org.br

(Arte: Marcellus Schnell)

Palestrantes

Pascal Dibie

Doutor em etnologia pela Universidade Paris VII, onde trabalha como orientador. Ganhou o prêmio de sociologia Henri Dumarest da Academia Francesa por seu livro Etnologia do quarto de dormir.