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O historiador francês Roger Chartier discute a criação estética

Curso Presencial
Criação estética, formas de representação e experiências sócio-afetivas

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Programa

Este curso quer examinar as relações entre a criação estética, as formas de circulação e de representação das obras e as experiências sociais e afetivas dos seus públicos. Esta questão é discutida a partir do estudo de obras que pertencem a vários gêneros:  literatura (dois romances), música (uma ópera) e arte (um quadro).

Concebidas e difundidas em diferentes períodos, desde o século XVII até o século XIX, estas obras permitirão de analisar as várias relações existentes entre produções estéticas e experiências sociais e culturais.

1.Cervantes, Don Quixote de La Mancha (1605).  Mobilidade e materialidade dos textos.
Esta apresentação enfatiza a presença na história escrita por Cervantes das condições de sua publicação, circulação e leituras. Assim, as referências aos gêneros (livros de cavalaria, romances picarescos, fábulas pastorais), a história de suas primeiras impressões (Don Quixote na imprensa), a cronologia e geografia de suas traduções (mencionadas nos começos da Segunda Parte) e a pluralidade de suas apropriações (festivas, iconográficas, teatrais ou escolares). Assim, compreende-se a tensão entre a permanência de uma obra que atravessou os séculos e parece sempre a mesma e, por outro lado, a diversidade histórica de seus significados, criada pela materialidade de suas edições e os contextos de sua recepção.

2. Mozart, Don Giovanni (1787).  Reescritas de um mito.
A leitura (e a escuta) da ópera de Mozart está localizada na tradição folclórica e na genealogia literária das peças que precederam o libreto de Da Ponte, particularmente o Festin de pierre de Molière e o Burlador de Sevilla de Tirso de Molina. A comparação entre as três obras enfatiza os efeitos da censura ou da edulcoração das passagens consideradas como blasfematórias, as várias apropriações do tema folclórico do jantar com um morto, sua caveira ou sua estátua, e as diferenças na última cena da obra que representa o castigo final do Don Juan. A análise chama a atenção sobre as reescritas do mito de Don Juan, que desfruta das mulheres, estuprando-as ou trocando com elas uma promessa de casamento, o que, na teologia previa ao Concílio de Trento era suficiente para dar à união a força de um sacramento. Este estudo comparativo enfatiza a particularidade de cada gênero: a “comedia” no Século do Ouro, a “comédie” no teatro francês do século XVII e a opera no tempo do Iluminismo.

3. Antoine Watteau, O Embarque Citera (1717). Pintura, nostalgia e sensibilidade.
Esta pintura de Watteau, conservada no Museu do Louvre em Paris, foi apresentada a Academia de Pintura e Escultura em 1717.  É também conhecida como A Peregrinação a Ilha de Citera ou simplesmente Une fête galante. Watteau pintou uma segunda versão do quadro, atualmente no Palácio de Charlottenburg em Berlim. Sua análise é localizada nos três possíveis contextos que proporcionam seu sentido: como expressão da nostalgia aristocrática frente as coerções da vida de corte; como representação de uma mutação das sensibilidades e da sensualidade e como tradução estética das empresas coloniais francesas apresentadas como um processo de civilização galante. Como o mostrou Norbert Elias, a obra, condenada pela Revolução como um vestígio das futilidades do Antigo Regime, foi redescoberta pelos pintores e poetas românticos, pois representava uma imagem de um paraíso perdido, um vestígio de uma felicidade ideal destruída pela fealdade da realidade.

4.Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas (1880).  Cultura impressa e metáforas.
A leitura do livro de Machado de Assis segue três fios: editorial, com a trajetória do romance desde  folhetim até o livro e as transformação da temporalidade da leitura assim implicada; histórico, com a incorporação no texto dos objetos e das práticas da cultura escrita de seu tempo; e metafórica, com a teoria das edições humanas que proporciona uma modalidade secularizada (“cada estação da vida é uma edição; que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes”). Trata-se de uma metáfora frequente, mas com um final mais feliz, na literatura religiosa (poemas, comentários bíblicos, elegias, epitáfios) da Inglaterra e da Nova Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, entre John Donne e Benjamin Franklin.

As inscrições podem ser feitas a partir das 14h do dia 27/6 no site do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, através do app ou presencialmente em qualquer unidade do Sesc São Paulo. Após o início da atividade não é possível realizar inscrição. O cadastro é pessoal e intransferível.

O pagamento pode ser feito através do cartão de crédito, débito ou em dinheiro. Trabalhamos com as bandeiras Visa, Mastercard, Elo e Hipercard.

Ao término do curso, você poderá solicitar sua declaração de participação pelo e-mail declaracao.cpf@sescsp.org.br
A declaração será encaminhada em até 30 dias

O cancelamento poderá ser realizado com até 48 horas antes do início da atividade, por email: centrodepesquisa.cpf@sescsp.org.br


(Arte: Amadeo de Souza-Cardoso)

Palestrantes

Roger Chartier

Roger Chartier

Historiador renomado, vinculado à École des Annales e maior referência viva da escola, foi professor do  Collège de France, em Paris. Atualmente é professor visitante na Universidade da Pensilvânia. Seu trabalho segue a tradição da escola dos Annales, tendo se dedicado especialmente à história do livro e da leitura. É especialista em história das práticas culturais.
(Foto: Acervo Pessoal)

Data

16/07/2024 a 19/07/2024

Dias e Horários

Terça a Sexta, 14h às 18h.

Curso Presencial

Inscrições a partir das 14h do dia 27/6, até o dia 16/7.
Enquanto houver vagas.

Local

Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - 4º andar
Bela Vista - São Paulo.

Valores

R$ 30,00 - credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes
R$ 60,00 - pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante
R$ 120,00 - inteira

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