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Como os monumentos se tornam obsoletos? As novas paisagens mnemônicas na era decolonial

Curso On-Line
Derrubar monumentos? Os dilemas entre relembrar e apagar o passado

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Programa

Estátuas de Colombo foram derrubadas nos EUA e na Europa, em Bristol, no Reino Unido, a estátua do traficante Edward Colston foi derrubada e lançada em um rio (para ser depois recuperada pela prefeitura). No Brasil discute-se intensamente as homenagens feitas a bandeirantes caçadores e escravizadores de indígenas e a presidentes do período da ditadura civil-militar de 1964-1985. Esses debates na verdade existem há décadas, mas foram dinamizados no contexto dos movimentos antirracistas desencadeados pela morte barbara de George Floyd. Suas palavras, "I can't breathe" ecoam e fazem com que repensemos a história.

Particularmente o elemento de repetição colonizadora da história é posto em questão. Afinal, ao se homenagear "heróis" que representam a violência colonial, no mesmo movimento se apaga a memória dos espezinhados pela história. No caso brasileiro, país marcado pela ideologia da "democracia racial", esse fato é particularmente grave, pois nega-se o tempo todo a violência colonial.

A Empresa Colonial se desdobra até hoje neste país, seja economicamente, pois somos ainda, como no século XVI, um exportador de commodities, seja no pensamento, pois reproduzimos uma história eurocêntrica e branca, seja na nossa relação com a natureza, que é vista como fonte inesgotável de lucros, e sobretudo na questão social e racial: até hoje, 132 anos após a abolição oficial da escravidão, reproduzimos as violências racial e social derivadas daquele sistema.

No curso, propomos pensar essa história do ponto de vista da construção da memória na era Moderna (com seu caráter colonial) e sobretudo da resistência decolonial a esse modelo. Veremos a história dos monumentos, do triunfo das estátuas equestres no século XIX, aos antimonumentos no final do século XX e na nossa época. Discutiremos como, na contracorrente da inscrição simbólica da violência colonial (de classe, gênero e racial), ocorre uma resistência a essa violência tanto em termos de lutas como de sua memorialização. O dispositivo colonial possui em seu centro, como seu braço simbólico, o dispositivo estético aliado à história positivista (calcada em documentos e focada nos agentes dos grupos dominantes). Histórias negras, indígenas e de grupos subalternizados, decantadas em bases materiais as mais diversas, desconstroem essa estética e historiografia coloniais no sentido oposto das práticas de silenciamento e de apagamento.

O momento atual deve ser pensado como uma janela que permite repensar a história do ponto de vista decolonial. Isso implica uma urgente revisão das práticas de monumentalização, de memorialização, de escrita e de ensino da história. Tanto a geografia mnemônica de nossas cidades, como as paisagens simbólicas de nossa linguagem cotidiana devem ser repaginadas.

OBS: O participante precisa ter celular e computador e conhecer os princípios básicos para uso desses equipamentos. Após a conclusão da sua inscrição on-line na atividade e/ ou curso, você receberá por e-mail um link de acesso à Plataforma Microsoft Teams, onde será realizada a atividade e/ou curso, com até 1 (um) dia de antecedência da data de início. O acesso também poderá ser realizado através do web navegador de sua preferência.

As inscrições podem ser feitas a partir das 14h do dia 29/6, aqui no site do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Após o início da atividade não é possível realizar inscrição. O cadastro é pessoal e intransferível.

*Este curso será 100% Online. Após o encerramento, será possível solicitar sua declaração de participação, enviando um email para declaracao@cpf.sescsp.org.br

(Arte: Walter Cruz)

Palestrantes

Márcio Seligmann

Márcio Seligmann

Professor titular de Teoria Literária na UNICAMP e pesquisador do CNPq, possui mestrado em Letras pela USP e doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Freie Universität Berlin, pós-doutor pelo Zentrum Für Literaturforschung Berlim e por Yale. É vice-presidente da ICLA, International Comparative Literature Association/ AILC, Association Internationale de Littérature Comparée.
(Foto: Acervo Pessoal)

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Data

08/07/2020 a 05/08/2020

Dias e Horários

Quartas, 18h às 20h.

Curso 100% Online.

Vagas Limitadas.

Local

Em Casa

Valores

Grátis