Curso On-Line
Literatura e Fotografia: aproximações e correspondências

Programa

Que relações têm sido estabelecidas, ao longo dos tempos, entre palavra e imagem? Mais especificamente, entre a palavra literária e a imagem técnica; entre a narrativa ficcional, a poesia e a fotografia? Desde o seu advento, em uma época em que prevaleciam o espírito positivista e a exploração colonial, a fotografia suscitou vívidos rechaços, assim como os mais ardentes entusiasmos.

Utilizada pelos primeiros fotógrafos como ferramenta inestimável para registrar e classificar a realidade, a câmera foi vista por Charles Baudelaire como instrumento frio, mecânico e carente de alma. Produto da “grande loucura industrial da época”, a nova tecnologia, segundo o poeta francês, destruía todos os esforços imaginativos e criativos. Por sua vez, os álbuns fotográficos e os cartões de visita se tornaram objetos de paixão para Marcel Proust.

Não por acaso, o cultivo da “memória involuntária” e da “imagem latente”, assim como a presença de uma série de metáforas fotográficas ao longo da obra do romancista, foram percebidos pelo olhar arguto de Brassaï. Embora a utilização de fotografias em textos literários seja, ainda hoje, pouco frequente, é notória a influência que a construção de uma nova visibilidade derivada da imagem técnica passou a exercer sobre a narrativa literária e a poesia.

Pode-se afirmar, em consonância com estudos realizados por Joan Fontcuberta, que somente a partir da década de 1970, a fotografia passou a ser de fato matéria acadêmica e museológica. Mesmo que antes disso já tivesse sido objeto de estudos universitários e fizesse parte de coleções de galerias e museus, é desde esse período que a fotografia se popularizou entre as estruturas canônicas da cultura. Tal processo de valorização, acompanhado por sua inclusão na arte contemporânea e pela consequente dinamização do mercado da fotografia como objeto artístico, certamente são fatores que promovem acercamentos cada vez mais frequentes da imagem fotográfica a uma expressão artística canonizada como a literatura.

A proposta deste curso on-line é, portanto, seguir essa trajetória de aproximações e correspondências que têm se estabelecido entre textos literários e imagens fotográficas, analisando manifestações desse processo em diferentes contextos de realização.

Programa

Aula 1 (10/5) – Aproximações ao campo expandido das artes: da modernidade ao contemporâneo.
Neste primeiro encontro, serão tratados aspectos históricos da relação entre literatura e imagem técnica, considerando desde as aproximações ocorridas em um período marcado pela autonomia dos campos artísticos até o momento atual em que as fronteiras entre a literatura e as outras artes passam a ser continuamente desafiadas. Serão comentadas obras literárias modernas e contemporâneas que se aproximam da fotografia, algumas delas chegando a inclui-la materialmente no corpo do texto.

Aula 2 (17/5) – A literatura como propulsora de imagens.
Serão apresentados e analisados ensaios fotográficos de autoria de Maureen Bisilliat que, inseridos em sua proposta de “equivalências fotográficas” de obras literárias de Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto e Jorge Amado, pressupõem um processo de imersão nos textos e em suas paisagens, assim como uma cuidadosa seleção dos trechos com os quais a fotografia irá dialogar.

Aula 3 (24/5) – Memória, cotidiano e história em fotos e relatos.
Nesta sessão, se observará como relatos de memória são potencializados pela presença testemunhal das imagens fotográficas, seja quando tematizam cenas do cotidiano ou eventos históricos. Para isso, serão apresentadas três obras que cumprem de formas distintas esse objetivo: Um diário russo (1948), com textos de John Steinbeck e fotografias de Robert Capa / Buenos Aires, Buenos Aires (1968), com fotos de Alicia D’Amico e Sara Facio, e textos de Julio Cortázar e, por último, La noche de Tlatelolco (1971), de Elena Poniatowska.

Aula 4 (31/5) – Ficção e não-ficção; diálogos e correspondências.
Neste encontro, serão apresentadas e comentadas duas séries de foto-relatos que tiveram um grande êxito editorial na Espanha da década de 1960: a Colección Palabra e Imagen (Editorial Lumen) e Fotografías al minuto. Ambas envolveram escritores da importância de Pablo Neruda, Camilo José Cela, Ana María Matute e Mario Vargas Llosa, além de darem origem a uma nova geração de fotógrafos, composta por Jaime Buesa, Oriol Maspons, Joan Colom, Xavier Miserachs e Ramón Masats, dentre outros. Trata-se de experiências singulares no que diz respeito às possíveis correspondências entre texto literário e imagem fotográfica.

Obs: O participante precisa ter celular e computador e conhecer os princípios básicos para uso desses equipamentos. Após a conclusão da sua inscrição on-line na atividade e/ ou curso, você receberá por e-mail um link de acesso à Plataforma Zoom, onde será realizada a atividade e/ou curso, com até 1 (um) dia de antecedência da data de início. O acesso também poderá ser realizado através do web navegador de sua preferência.

Os encontros em ambiente on-line não são gravados, não sendo disponibilizados seus registros para posterior visualização.

As inscrições podem ser feitas a partir das 14h do dia 28/3, aqui no site do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Após o início da atividade não é possível realizar inscrição. O cadastro é pessoal e intransferível.

*Este curso será 100% Online. A declaração será enviada automaticamente em até 10 dias após a finalização da atividade e caso isso não ocorra, você poderá solicitar pelo e-mail: declaracao.cpf@sescsp.org.br

**Se você necessita de recursos de acessibilidade, como tradução em Libras, faça a solicitação pelo e-mail centrodepesquisa.cpf@sescsp.org.br, justamente após a conclusão e efetivação do pagamento de sua inscrição, e com pelo menos 48 horas de antecedência do início da atividade.

(Arte: PxHere)

Palestrantes

Elisa Maria Amorim Vieira

Doutora em Letras Neolatinas pela UFRJ e professora do Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários da UFMG.
(Foto: Acervo Pessoal)

Bibliografia

Aletria: Revista de Estudos de Literatura, v.24, nº 2, maio/agosto 2014, Dossiê Literatura e Fotografia. Belo Horizonte: POSLIT, Faculdade de Letras da UFMG. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/issue/view/1018

BARTHES, Roland. A câmara clara: notas sobre fotografia. Trad.: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre a literatura e história da cultura. Obras escolhidas, vol. 1. Trad.: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BERGER, John. Para entender uma fotografia. Trad.: Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras2013.

BISILLIAT, Maurren. Fotografias. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2009.

BRASSAÏ. Proust e a fotografia. Trad.: André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BRIZUELA, Natalia. Depois da fotografia: uma literatura fora de si. Trad.: Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

BRIZUELA, Natalia. Fotografia e império: imagens para um Brasil moderno. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

CELA, Camilo José; PALAZUELO, Enrique. Fotografías al minuto. Madrid: 1972.

CORNELSEN, Elcio; VIEIRA, Elisa Amorim; LEIVA QUIJADA, Gonzalo (Orgs.). Em torno da imagem e da memória. Rio de Janeiro: Ed. Jaguatirica, 2016.

CORNELSEN, Elcio; VIEIRA, Elisa Amorim; SELIGMANN-SILVA, Márcio (Orgs.). Imagem e memória. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2012.

CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Trad.: Verrah Chamma. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

D’AMICO, Alicia; FACIO, Sara; CORTÁZAR, Julio. Buenos Aires, Buenos Aires. Buenos Aires: Sudamericana, 1968.

DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tomam posição: O olho da história I. Trad.: Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017.

ESCOBAR, Ticio. Imagen e intemperie: las tribulaciones del arte en los tiempos del mercado total. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2015.

FERNÁNDEZ, Horacio. Fotolivros latino-americanos. São Paulo: Cosac Naif, 2011.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume, 2011.

FONTCUBERTA, Joan (Ed.). Fotografía: Crisis de historia. Barcelona: Actar, s/d.

FONTCUBERTA, Joan; ANTICH, Xavier. Revelaciones: dos ensayos sobre fotografía. Traducción: Cristina Zelich. Barcelona: Gustavo Gili, 2020.

GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad.: Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia. Expansões contemporâneas: Literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.

MARQUES, Ana Martins. Paisagem com figura: fotografia na literatura contemporânea (W. G. Sebald, Bernardo Carvalho, Alan Pauls, Orhan Pamuk). Tese de doutorado. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2013.

MATUTE, Ana María; BUESA, Jaime. Libro de juegos para los niños de otros. Barcelona: Lumen, 1961.

MONTEJO NAVAS, Adolfo. Fotografia e poesia: afinidades eletivas. São Paulo: Ubu, 2017.

PEDROSA, Célia [et al.] organizadores. Indicionário do contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018.

PONIATOWSKA, Elena. La noche de Tlatelolco. México D.F.: Bolsillo Era, 2014.

REVISTA LETRÔNICA, V. 12, n. 3. “Literatura e Fotografia”. Porto Alegre: PPGL/PUCRS. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/issue/view/1310

RANCIÈRE, Jacques; BISILLIAT, Maurren. “O desmedido momento”. In: Serrote, n. 28, março/2018. São Paulo: Instituto Moreira Salles.

RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. Trad.: Mônica Costa Netto. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

SCHØLLHAMMER, Karl Erik. Além do visível: o olhar da literatura. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Trad.: Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

VIEIRA, Elisa Amorim; LEIVA QUIJADA, Gonzalo; ARBEX, Márcia (Orgs.). Aletria, v. 24, n. 2. Dossiê: Literatura e Fotografia. Belo Horizonte, maio/ago 2014.