Machado de Assis e o processo de criação literária

 

Esta palestra almeja apresentar uma síntese dos resultados alcançados no livro ‘Machado de Assis e o processo de criação literária’, que derivou de uma pesquisa de Doutoramento, voltada para o estudo crítico e comparativo de contos de Machado de Assis publicados entre 1879 e 1884 em três diferentes contextos de produção: a revista A Estação (1879-1884), o jornal Gazeta de Notícias (1881-1884) e as coletâneas Papéis avulsos (1882) e Histórias sem data (1884).

Paralelamente ao trabalho de retomada das fontes primárias e das condições de produção literária na imprensa periódica, a pesquisa propôs um questionamento das duas correntes básicas da fortuna crítica machadiana, que sustentam as teses de que a trajetória criativa de Machado de Assis se define por uma "ruptura radical" ou por um "amadurecimento progressivo" entre as fases de produção.

Partindo dessa problematização, investiu-se numa redefinição das perspectivas de análise de modo a tornar possível a percepção da complexidade do percurso do escritor e dos delineamentos criativos de sua ficção, que evidenciam um movimento alternado entre experimentação, aprimoramento, repetição, descontinuidade e legitimação de soluções temáticas, procedimentos formais e orientações estéticas. Com base na constituição versátil e multiforme assumida pela sua colaboração nesses dois periódicos, constatou-se que a criação machadiana se configura a partir das especificidades materiais e das demandas disponíveis em cada contexto (revista, jornal e livro), orientando-se por um transitar simultâneo do autor entre as esferas do passatempo e da artisticidade, do prosaísmo e da complexidade, da reiteração de fórmulas testadas e do esboço de proposições inovadoras.