Vilém Flusser: imagem, técnica e ficção

Programa

Injustamente pouco conhecido entre os profetas da "revolução digital", o filósofo e teórico da mídia Vilém Flusser alcançou reconhecimento internacional apenas moderado graças à publicação de Filosofia da Caixa Preta, em 1984. Todavia, a obra de Flusser vem despertando, nos últimos 10 anos, enorme interesse nos meios acadêmicos e entre públicos mais amplos. O autor, que viveu no Brasil por 32 anos, é hoje uma referência em trabalhos de campos como teoria da mídia, arte e estudos culturais. O objetivo da palestra é analisar a prática flusseriana da "ficção filosófica" como uma forma de epistemologia imaginativa que funde a estrutura da fábula com o discurso científico. Numa proposição de cunho cibernético, Flusser desenvolve uma teoria do conhecimento na qual arte e ciência, saber e imaginação, teoria e ficção se entrelaçam de modo a permitir uma radical reconfiguração do olhar tradicionalmente antropocêntrico. Com isso, o filósofo realiza um "experimento mental", útil aos campos da arte e dos estudos de cultura que, anos mais tarde, encontrará ressonâncias nas histórias imaginativas de Manuel de Landa, na "filosoficção" de Peter Szendy e na "hiperstição" de Nick Land.
Com Erick Felinto


O conceito flusseriano de "pós-história" deve ser entendido como à época em que o decurso histórico, o progresso e o encadeamento de eventos tendo em vista determinada série e certo propósito não são mais predominantes. Segundo Flusser, esse entendimento excluiria o Brasil, já que, aqui, nunca teria se consolidado uma vivência propriamente histórica, mas apenas ilhas de história, num mar de vivência não histórica. Entretanto, a palestra pretende indicar, a contrapelo da posição de Flusser, que as contribuições do filósofo funcionaram também como uma reflexão prévia para a formação do seu conceito de pós-história. Vale também a consideração de que uma experiência como a do Brasil, pode inspirar inclusive os povos dela emersos, na medida em que a pós-história não signifique o aprofundamento das mazelas da história, mas a ampliação das possibilidades de realização da humanidade. A palestra apresenta conceitos fundamentais para a caracterização da pós-história (programa, comunicação, ritmo e imagem) e analisa as colocações de Flusser sobre o Brasil, para aproximar esses dois campos de reflexão do filósofo.
Com Rodrigo Duarte


A comunicação humana foi compreendida por Vilém Flusser como processo que sempre buscou o armazenamento, o processamento e a transmissão das informações adquiridas. Definição explorada sob diversos caminhos em sua vasta obra e que permitiu observar os sentidos profundos empregados ao universo da cultura, vista como esforço artificial do homem em fundamentar a sua realidade. Nestas tentativas, desenvolvem-se diferentes estruturas capazes de intermediar estes campos de significação, os códigos, primordialmente separados em três tipos: imagem, texto e tecnoimagem, capazes de orientar o entendimento do homem sobre si mesmo, sobre suas relações e o mundo que o cerca. O objetivo da palestra é refletir sobre os principais conceitos de Vilém Flusser e fundamentos desta concepção sobre comunicação. A tecnicidade dos meios será observada junto das corporeidades e gestualidades a ela aliadas e como jogo relacional do homem com seu entorno, onde ambos se realizam mutuamente.
Com Diogo Bornhausen

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