A censura aos cantores "cafonas" na vigência do AI-5

A década de 1960, no Brasil, foi a época dos festivais de música na televisão e de grande efervescência política. A música criada, nesse período, por uma parte dos universitários oriundos da classe média urbana, foi denominada “música popular brasileira”. Parte da esquerda política se identificava com um projeto desenvolvimentista, de tintas nacionalistas, e se preocupava naquele momento em afirmar não só o “popular”, mas também o “brasileiro”. Com o golpe militar de 1964, surge a “canção de protesto”, politizada, associada a cantores como Chico Buarque, Geraldo Vandré e Gonzaguinha. A historiografia tradicional tende a eleger esses compositores, que tiveram muitas canções censuradas, como os símbolos da resistência à ditadura no terreno musical. Cantores que tinham nas classes populares o seu público, como Odair José, Waldick Soriano e Benito Di Paula, por outro lado, tendem a ser ignorados pela historiografia ou rotulados de alienados e “cafonas”, em virtude de suas canções românticas. O objetivo desta aula é questionar essa dicotomia entre os cantores “cafonas” e os cantores “de protesto”, mostrando como os primeiros também tiveram canções censuradas pelo regime, por conterem críticas sociais explícitas e poderem ser ressignificadas por setores populares insatisfeitos, ou ainda por abordarem tabus morais vigentes na época, como virgindade, homossexualidade e divórcio.

*Esta palestra  integra o ciclo de debates ¨Cultura e Ditadura Militar¨, composto por encontros independentes que acontece em abril.

As inscrições podem ser feitas a partir de 25 de março, às 14h, pela Internet ou nas unidades do Sesc em São Paulo.

(Foto: (CC By-SA) Isaac Mao)