A Força das Representações

Programa

Com o decorrer dos anos, a noção de representação quase veio a designar por si só a história cultural. O conceito de representação foi e é um precioso apoio para que se pudesse assinalar e articular de maneira mais eficaz do que nos permitia a noção de mentalidade.

As diversas relações que os indivíduos ou os grupos mantêm com o mundo social: em primeiro lugar, as operações de classificação e hierarquização mediante as quais se percebe e representa a realidade; em seguida, as práticas e os signos que visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de ser no mundo, a significar simbolicamente uma condição social, um poder; por último, as formas institucionalizadas pelas quais uns "representantes" (indivíduos singulares ou instâncias coletivas) encarnam de maneira visível a coerência de uma comunidade, a força de uma identidade ou a permanência de um poder.

Assim pode entender-se a força das representações que produzem o mundo social, que asseguram a dominação simbólica, que convencem que a realidade é (ou foi) o que dizem ou mostram que é.  Semelhante perspectiva transformou profundamente a compreensão de várias realidades essenciais, tais como o exercício da autoridade, fundada na adesão aos signos, aos ritos e às imagens que fazem com que seja vista e obedecida; a construção das identidades sociais ou religiosas, sempre situada na tensão entre as representações impostas pelos poderes ou pelas ortodoxias e a consciência de pertencimento de cada comunidade ou cada indivíduo, ou ainda, as relações entre os sexos, pensadas como a inculcação, pela repetição das representações e das práticas, da dominação masculina e também com a afirmação de uma identidade feminina própria, enunciada fora ou dentro do consentimento, pelo rechaço ou a apropriação dos modelos impostos. 

O presente curso quer mostrar que o estudo das representações não se afasta da realidade social ou da verdade histórica.  O conhecimento do mundo social supõe que se  articulem as representações das práticas e as práticas da representação. A representação das práticas têm razões, códigos, finalidades e destinatários particulares.

Identificá-los é uma condição para entender como as representações descrevem,  prescrevem, proíbem ou  organizam a realidade presente ou passada. E também uma condição para compreender a construção do mundo social e político como o resultado de lutas de classificações e representações que são tão reais como são as lutas de classes.

Para demonstrar a força das representações, o curso cruza várias abordagens propostas pela história cultural, a sociologia, a história da arte e das imagens, a crítica literária, a história da história e a filosofia política. 

As inscrições pela internet podem ser realizadas até um dia antes do início da atividade. Após esse período, caso ainda haja vagas, é possível se inscrever pessoalmente em todas as unidades. Após o início da atividade não é possível realizar inscrição.

Palestrantes

Roger Chartier

Historiador renomado, vinculado à École des Annales e maior referência viva da escola, foi professor do  Collège de France, em Paris. Atualmente é professor visitante na Universidade da Pensilvânia. Seu trabalho segue a tradição da escola dos Annales, tendo se dedicado especialmente à história do livro e da leitura. É especialista em história das práticas culturais.
(Foto: Acervo Pessoal)