Atividades

A produção cultural de um dos fundadores dos Estudos Culturais

Ciclo A multiplicidade de Stuart Hall

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Programa

02/02 – A trajetória intelectual de Stuart Hall. Com Liv Sovik
Como ler Stuart Hall? A variedade de questões, níveis de abstração, tipos de abordagem, de Hall, fazem com que seja lido a partir de muitas perspectivas e disciplinas e sujeito a muitos usos.  Esta palestra pretende responder à pergunta levando em conta uma série de maneiras em que a obra desse teórico da comunicação e da cultura, morto em 10 de fevereiro de 2014, vem sendo recebida no Brasil.

Será apresentada a trajetória de Hall, quem ele era, como ele trabalhava e o que produziu.  Suas reflexões sobre imaginários populares britânicos passaram por uma abordagem que ajudou a torná-lo um dos fundadores dos Estudos Culturais.  A preocupação com identidades negras o levou a valorizar a diáspora como conceito que sintetiza a problemática da conjugação de cultura e poder nas “sociedades de tradução”, entre as quais situa o Brasil. Voltava-se com frequência ao tema do lugar do pensamento na vida individual e na sociedade e, ele próprio, desenvolveu um estilo que divergia, às vezes mais do que parece à primeira vista, das técnicas do trabalho acadêmico padrão.  Sua dedicação, no final da vida, às artes visuais parecia, mas não era uma ruptura com o trabalho anterior.  

Quem era Stuart Hall? Quais são os problemas aos quais se dedicou?  Responder a essas perguntas tem o intuito de ajudar seus atuais e futuros leitores a entrar na complexidade e riqueza de seu trabalho. 


03/02 – Contribuições de Stuart Hall no pensamento sobre feminismo. Com Ana Carolina Escosteguy
Stuart Hall reconhece o feminismo como uma das rupturas teóricas decisivas e que alterou uma prática acumulada em estudos culturais, reorganizando sua agenda. Adquire especial importância o encontro entre o feminismo e estudos culturais e, por essa razão, é possível refletir especificamente sobre as contribuições de Stuart Hall para os estudos sobre feminismo. O desafio consiste em identificar aspectos da reflexão desse intelectual que podem ter auxiliado na construção, sobretudo, de uma perspectiva onde se reconhece que distintas formas culturais e seus respectivos endereçamentos posicionam as mulheres, produzindo-as como sujeitos, enquanto aparentam apenas descrevê-las.

Ana Carolina Escosteguy considera que adquire especial importância o encontro entre feminismo e estudos culturais e que, por essa razão, é possível refletir especificamente sobre as contribuições de Stuart Hall para os estudos sobre feminismo. Destaca-se que esse intelectual reconhece o feminismo como uma das rupturas teóricas decisivas e que alterou uma prática acumulada em estudos culturais, reorganizando sua agenda. O desafio consiste em identificar aspectos da reflexão desse intelectual que podem ter auxiliado na construção, sobretudo, de uma perspectiva onde se reconhece que distintas formas culturais e seus respectivos endereçamentos posicionam as mulheres, produzindo-as como sujeitos, enquanto aparentam apenas descrevê-las.

06/02 – Estudos de mídia. Com Venício Lima
Apesar da enorme diferença entre os processos históricos de consolidação dos sistemas de mídia na Inglaterra e no Brasil, algumas questões teóricas, eram e continuam sendo semelhantes. Destacam-se três nas quais a contribuição de Stuart Hall foi decisiva:


(1) o papel da audiência (receptores) na “leitura” das mensagens da mídia (emissor) Hall argumentava que existiam pelo menos três posições hipotéticas a partir das quais a decodificação de uma mensagem (discurso) televisiva poderia ser construída pela audiência: a posição hegemônica dominante; uma versão (código) “negociada” e uma versão (código) de “oposição”. Vale dizer, embora a maioria da audiência decodifique a mensagem no código referencial operado pela mídia, outra parte “negocia” o significado (aceitando-o no todo ou em parte) e outra rejeita o significado dominante.

Vivíamos uma ditadura, com a voz pública de oposição censurada e com a consolidação oligopolista de um conglomerado de mídia que fazia a sustentação ideológica do governo militar. O texto de Hall se contrapunha diretamente a uma “teoria da recepção”, apoiada na “análise do discurso”, que diluía inteiramente o poder da mídia com o argumento de que cada um construía individualmente sua própria significação para as mensagens. A proposta teórica de Hall possibilitava não só que a crítica aos modelos teóricos que assumiam a passividade generalizada “dos receptores” fosse feita, como, ao mesmo tempo e, mais importante àquela época, permitia o argumento de que, sim, havia uma leitura dominante (“preferred reading”) construída na e pela mídia. Essa leitura dominante conferia à mídia um imenso poder. 

(2) a questão da “produção social das notícias” 

Hall e seus colegas partem da afirmação de que “os mídia não relatam simplesmente e de uma forma transparente acontecimentos que são só por si ‘naturalmente’ noticiáveis. ‘As notícias’ são o produto final de um processo complexo que se inicia numa escolha e seleção sistemática de acontecimentos e tópicos de acordo com um conjunto de categorias socialmente construídas”.

(3) a comunicação como campo (não) autônomo de conhecimento. 

Hall afirma que há uma crise do paradigma dominante behaviorista-empirista da pesquisa e da teoria em comunicação e identifica alguns de seus indicadores. Aquele indicador sob o qual mais se detém é o que chama de “esforço teórico para identificar processos, instituições e efeitos que podem de alguma maneira ser atribuídos à ‘comunicação’ como tal, separados das estruturas social, econômica, política e cultural nas quais os sistemas modernos de comunicação estão inextrincavelmente ligados (embedded)”.

Enquanto no Brasil, boa parte dos estudiosos de comunicação permanece em busca de uma inalcançável “pureza epistemológica”, há quase trinta anos, bem antes da revolução digital e da convergência de mídias, Hall argumentava sobre a inevitabilidade de a articulação teórica acontecer no campo regional “das estruturas e práticas sociais”. Não é sem razão que, infelizmente, a produção intelectual no campo da comunicação entre nós fica muito aquém do esperado quando se trata da reflexão concreta sobre as complexas questões que o setor de comunicações enfrenta.



09/02 – Os Estudos Culturais de Stuart Hall e sua utilização na educação. Com Maria Lúcia Castagna Wortmann
As problematizações e análises conduzidas por Stuart Hall, em sua extensa, diversificada e produtiva obra, tiveram um importante impacto nos estudos conduzidos em educação. É possível dizer que os educadores que têm buscado inspiração em seus textos passaram a atentar para a centralidade que a cultura tem na produção dos modos dos sujeitos pensarem o mundo e de nele se posicionarem. Em outras palavras, as análises conduzidas por este importante autor contemporâneo, recentemente falecido, provocaram rupturas e rasuras em modos bastante consagrados de pensar a educação e o ensino. Hall salientou, por exemplo, a importância de adentrar-se no cotidiano, bem como de atentar-se para as diferentes manifestações culturais em curso no mundo de hoje para o alcance de entendimentos sobre como se produzem culturalmente identidades e diferenças. Ele nos incitou a estudá-las, destacando a centralidade que essas têm em nossas vidas, bem como a fazer estudos transdisciplinares, multifacetados e estratégicos, porque voltados a intervir em situações concretas a partir de questões que envolvem culturas e políticas. Pode-se dizer que, em decorrência disso, ampliou-se o escopo do que pode ser visto como educativo, na medida em que se passou a entender que uma multiplicidade de espaços e instâncias culturais, intencionadamente ou não, operam como potentes pedagogias. 

Como alguns programas de pós-graduação brasileiros optaram por colocar em articulação o campo dos Estudos Culturais, no qual se localizam os estudos conduzidos por Hall, e a Educação - alguns deles já a partir de meados dos anos 1990 -, torna-se importante abordar as produções deles derivadas, especialmente, em função das peculiaridades que essa associação tem imprimido ao modo de se pensar questões, discursos e artefatos tradicionalmente relacionados ao campo pedagógico e não porque esses nos tragam receitas ou modelos precisos acerca de como proceder em educação.

Como Costa, Wortmann e Silveira (2013) salientaram, as abordagens assumidas por Hall não colocam qualquer tema ou problemática em uma zona de conforto; ao contrário, o que caracteriza seu pensa¬mento é a ausência de qualquer garantia para o encontro de explicações totalizadoras, sendo esse o grande desafio que seus estudos colocam à Educação.

10/02 – Stuart Hall e relações raciais: entre cor e classe não há como escolher. Com Livio Sansone
Existem poucos intelectuais que fazem época. Menos ainda são aqueles que representam vozes importantes em varias épocas e campos de estudos. Stuart Hall é um deles. Foi uma voz importante do marxismo britânico – onde foi um dos primeiros a conjugar as ideias de Gramsci aos desafios da análise social -, depois dos estudos da literatura, das culturas juvenis e operárias, do uso dos estilos e do consumo como forma de reconquistar um protagonismo negado às classes subalternas, e, finalmente, do impacto da mídia nos processos identitários. Nisso ele nunca quis e pode escolher entre “cor/raça” e “classe”. A racialização da classe e das desigualdades é tão pertinente quanto a persistência das fissuras e tensões de classe no âmbito de todo processo identitário de cunho étnico-racial.

Os jovens, sobretudo das classes baixas, criavam estilos centrados na re-semantização de estigmas: o macacão azul e a bota reforçada do metalúrgico viravam parte do uniforme do skinhead (careca do subúrbio), o estilo malandro do Mod transformava um office boy em um herói da noite, o cabelo dread fazia do cabelo crespo dos jovens negros filhos dos imigrantes das ex-colônias um cabelo à moda. Hall estimulava pesquisas que eram tanto etnográficas quanto semióticas. Os estilos tinham que ser interpretados, mas também era importante registrar o que os jovens envolvidos tinham a dizer, capturando o glossário e os valores destes grupos.
A “raça”, para Hall, era mais que nada a forma pela qual a classe tendia a se manifestar, sobretudo em contextos de industrialização, flexibilização do mercado de trabalho, desemprego e corte dos gastos públicos com os serviços sociais, coexistiam com a imigração das ex-colônias – percebida pelos britânicos como a causa principal do mal estar social. Mas Hall sabia bem que, por quanto fosse necessário ficarmos atentos às velhas e novas formas de discriminação racial, nenhuma identidade étnica seria, como tal, livre de ambiguidades e generalizações.


(Foto: Reprodução)
 


Inscrições a partir do dia 26/01, às 14h.

Palestrantes

Liv Sovik

Liv Sovik

Doutora em Ciências da Comunicação pela USP.  Professora da Escola de Comunicação da UFRJ.
(Foto: Acervo pessoal)

Ana Carolina Escosteguy

Ana Carolina Escosteguy

Doutora em Comunicação pela USP. Professora titular e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUC-RS. Sua área de interesse concentra-se no campo da Comunicação e Estudos Culturais. (Foto: Acervo pessoal)

Venício Lima

Venício Lima

Doutor com pós-doutorado na University of Illinois at Urbana-Champaign e na University of Miami-Ohio. Professor titular aposentado de Ciência Política e Comunicação da UnB. Fundador e primeiro coordenador do NEMP-UnB. (Foto: Acervo pessoal)

Maria Lúcia Castagna Wortmann

Maria Lúcia Castagna Wortmann

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPG-Educação) — Linha de Pesquisa Estudos Culturais em Educação, da Faculdade de Educação da UFRGS. (Foto: Acervo pessoal)

Livio Sansone

Livio Sansone

Doutor em Antropologia pela Universiteit van Amsterdan. Professor associado de Antropologia na Universidade Federal da Bahia e pesquisador do Centro de Estudos Afro-Orientais da FFCH-UFBA. Integra o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos. (Foto: Acervo pessoal)

Data

02/02/2015 a 10/02/2015

Dias e Horários

Segundas, terças e sexta, 15h30 às 17h30.

Local

Rua Dr. Plínio Barreto, 285 
4º andar do prédio da FecomércioSP
Bela Vista - São Paulo/SP

Valores

R$ 18,00 - credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes
R$ 30,00 - pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante
R$ 60,00 - inteira
*O valor da inscrição é válido para todo o ciclo.