Ciclo A multiplicidade de Stuart Hall
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Como ler Stuart Hall? A variedade de questões, níveis de abstração, tipos de abordagem, de Hall, fazem com que seja lido a partir de muitas perspectivas e disciplinas e sujeito a muitos usos. Esta palestra pretende responder à pergunta levando em conta uma série de maneiras em que a obra desse teórico da comunicação e da cultura, morto em 10 de fevereiro de 2014, vem sendo recebida no Brasil.
Stuart Hall reconhece o feminismo como uma das rupturas teóricas decisivas e que alterou uma prática acumulada em estudos culturais, reorganizando sua agenda. Adquire especial importância o encontro entre o feminismo e estudos culturais e, por essa razão, é possível refletir especificamente sobre as contribuições de Stuart Hall para os estudos sobre feminismo. O desafio consiste em identificar aspectos da reflexão desse intelectual que podem ter auxiliado na construção, sobretudo, de uma perspectiva onde se reconhece que distintas formas culturais e seus respectivos endereçamentos posicionam as mulheres, produzindo-as como sujeitos, enquanto aparentam apenas descrevê-las.
06/02 – Estudos de mídia. Com Venício Lima
Apesar da enorme diferença entre os processos históricos de consolidação dos sistemas de mídia na Inglaterra e no Brasil, algumas questões teóricas, eram e continuam sendo semelhantes. Destacam-se três nas quais a contribuição de Stuart Hall foi decisiva:
As problematizações e análises conduzidas por Stuart Hall, em sua extensa, diversificada e produtiva obra, tiveram um importante impacto nos estudos conduzidos em educação. É possível dizer que os educadores que têm buscado inspiração em seus textos passaram a atentar para a centralidade que a cultura tem na produção dos modos dos sujeitos pensarem o mundo e de nele se posicionarem. Em outras palavras, as análises conduzidas por este importante autor contemporâneo, recentemente falecido, provocaram rupturas e rasuras em modos bastante consagrados de pensar a educação e o ensino. Hall salientou, por exemplo, a importância de adentrar-se no cotidiano, bem como de atentar-se para as diferentes manifestações culturais em curso no mundo de hoje para o alcance de entendimentos sobre como se produzem culturalmente identidades e diferenças. Ele nos incitou a estudá-las, destacando a centralidade que essas têm em nossas vidas, bem como a fazer estudos transdisciplinares, multifacetados e estratégicos, porque voltados a intervir em situações concretas a partir de questões que envolvem culturas e políticas. Pode-se dizer que, em decorrência disso, ampliou-se o escopo do que pode ser visto como educativo, na medida em que se passou a entender que uma multiplicidade de espaços e instâncias culturais, intencionadamente ou não, operam como potentes pedagogias.
10/02 – Stuart Hall e relações raciais: entre cor e classe não há como escolher. Com Livio Sansone
Existem poucos intelectuais que fazem época. Menos ainda são aqueles que representam vozes importantes em varias épocas e campos de estudos. Stuart Hall é um deles. Foi uma voz importante do marxismo britânico – onde foi um dos primeiros a conjugar as ideias de Gramsci aos desafios da análise social -, depois dos estudos da literatura, das culturas juvenis e operárias, do uso dos estilos e do consumo como forma de reconquistar um protagonismo negado às classes subalternas, e, finalmente, do impacto da mídia nos processos identitários. Nisso ele nunca quis e pode escolher entre “cor/raça” e “classe”. A racialização da classe e das desigualdades é tão pertinente quanto a persistência das fissuras e tensões de classe no âmbito de todo processo identitário de cunho étnico-racial.
A “raça”, para Hall, era mais que nada a forma pela qual a classe tendia a se manifestar, sobretudo em contextos de industrialização, flexibilização do mercado de trabalho, desemprego e corte dos gastos públicos com os serviços sociais, coexistiam com a imigração das ex-colônias – percebida pelos britânicos como a causa principal do mal estar social. Mas Hall sabia bem que, por quanto fosse necessário ficarmos atentos às velhas e novas formas de discriminação racial, nenhuma identidade étnica seria, como tal, livre de ambiguidades e generalizações.
(Foto: Reprodução)
Palestrantes
Liv Sovik
Doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Professora da Escola de Comunicação da UFRJ.
(Foto: Acervo pessoal)
Ana Carolina Escosteguy
Doutora em Comunicação pela USP. Professora titular e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUC-RS. Sua área de interesse concentra-se no campo da Comunicação e Estudos Culturais. (Foto: Acervo pessoal)
Venício Lima
Doutor com pós-doutorado na University of Illinois at Urbana-Champaign e na University of Miami-Ohio. Professor titular aposentado de Ciência Política e Comunicação da UnB. Fundador e primeiro coordenador do NEMP-UnB. (Foto: Acervo pessoal)
Maria Lúcia Castagna Wortmann
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPG-Educação) — Linha de Pesquisa Estudos Culturais em Educação, da Faculdade de Educação da UFRGS. (Foto: Acervo pessoal)
Livio Sansone
Professor titular de Antropologia da UFBA, possui graduação em Sociologia - Universita degli Studi La Sapienza , mestrado e doutorado em Antropologia - Universiteit van Amsterdam.
(Foto: Acervo pessoal)
Data
02/02/2015 a 10/02/2015
Dias e Horários
Segundas, terças e sexta, 15h30 às 17h30.