Atividades

Apresentação do projeto cultural que envolve professores, alunos e comunidade.

Escola: espaço para a ação cultural – Cavalo Nóia

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Programa

O relato de experiência do professor Jacson Silva Matos traz referência de um projeto pedagógico realizado em uma escola da periferia de São Paulo. Trata-se de uma festa organizada durante o ano letivo que culmina com um cortejo de multiplas linguagens artísticas, em que prevalecem as manifestações da cultura popular. O projeto Cavalo Nóia recebeu o convite para encerrar a 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, e para participar da abertura do ISPA – 23º Congresso da International Society for the Performing Arts, em 2009. Nas palavras do professor Jacson Silva Matos:

“O Cavalo Noia é uma espécie de boi-bumbá que sai às ruas do bairro Vila Missionária, periferia da zona sul de São Paulo, toda última sexta-feira de novembro de cada ano. É um projeto artístico-cultural criado na Escola Estadual Prof. Dr. Lauro Pereira Travassos que se tornou tradição na região. Aproveita-se para festejar o rendimento e conclusão do ano letivo. O enredo é baseado em fatos reais, conta a história de três cavalos, dois deles mortos acidentalmente e sepultados no terreno da escola, e por último o atropelado que sobreviveu e foi parar na universidade.”

“Quando acompanhamos a Festa do Cavalo Nóia pelas ruas da Vila Missionária, nos deparamos com um impressionante exemplo de multiculturalidade. Já na chegada à escola, vemos pendurados luminárias, baldes que foram trabalhados e perfurados em forma de mandalas para formar lanternas caleidoscópicas. O colorido também é de lei. Ao entrar na escola, encontramos pessoas utilizando todo tipo de adereços, como os chapéus produzidos a partir de imagens tropicalistas, ou com imagens de cavalos de brinquedo. Dois estandartes já tremulam nas mãos de jovens entusiasmados, lembrando-nos do carnaval e das folias brasileiras. Outros agitam os bonecos gigantes, certamente herança dos mamulengos nordestinos. Mas o grande momento é a entrada em cena do garoto “vestido” (de modo análogo a um boi-bumbá) no Cavalo Nóia, símbolo central da manifestação. Nesse ambiente polimórfico entra a figura do mestre de cerimônias, que começa a puxar um maracatu e uma ciranda com os instrumentos de percussão. Estamos prontos para o cortejo, que é precedido de uma queima de fogos. A caminhada pelo bairro também é inesperada: o grupo tem uma trajetória definida, mas pode mudar seu percurso. Ao longo de duas horas, moradores do bairro se aproximam e entram na festa. Depois de um pico, quando o desfile chega a uma loja de pipas, patrocinadora da festa, há mais uma queima de fogos e inicia-se o trajeto de retorno. Entre uma rua e outra vê-se, acentuando o caráter multicultural da manifestação, rodas de ciranda e de capoeira em torno da figura do Cavalo”.

(FIGUEIREDO, W. Revista Laboratório de Poéticas: Antenas e Raízes. São Paulo, nº 03, verão, 2007/ 2008.)


A ideia surgiu em 1999, quando, percebendo a animosidade dos alunos em relação à escola e verificando também uma apatia diante dos conteúdos programáticos da disciplina arte, eu resolvi mudar a situação e propus aos alunos do EJA (Ensino de Jovens e Adultos) uma pesquisa sobre arte e cultura vinculada ao bairro e a história de vida dos moradores. Os alunos encenaram em sala de aula algumas manifestações culturais, outros exibiram álbuns antigos de festas populares, São João, folias, carnaval. Foi então que uma turma, apresentando os casos e curiosidades da região, nos contou a história dos cavalos que foram sepultados na escola. A história absurda provocou muita gozação, falatório. Mas os fatos foram confirmados posteriormente pela própria diretora. “Naquele momento, foi plantada a semente da festa; toda a movimentação, nostalgias e vontades despertadas”.

Os alunos e professores pensaram em organizar uma festa. A princípio, a proposta era um evento fechado. Depois se cogitou a ideia de se fazer no pátio com portões abertos. Por último, decidimos festejar na rua mesmo. Ao discutir sobre o formato da festa, optamos por montar um bloco de carnaval fora de época. Em meio ao entusiasmo, lembrou um aluno: “vamos formar o bloco do cavalo”! Todos curtiram. No mesmo dia escolhemos o nome. Surgiram vários possibilidades "Cavalo Doido", "Cavalo Louco", “Cavalo Tantã”, até que chegamos ao CAVALO NÓIA, “Não é uma loucura de viver, trabalhar e estudar numa cidade como São Paulo?". O nome também remetia ao Cavalo de Tróia. Todos gostaram e assim foi batizado. O primeiro CAVALO NÓIA saiu às ruas em 2000 com a participação de cerca de 180 pessoas, entre alunos e professores. Na época, a escola se encontrava depredada, pichações, má iluminação, lixo. A grande parte dos alunos matriculados pertencia à terceira idade, descendentes do norte ou nordeste do país. Muita gente tinha medo de vir estudar a noite. A violência do bairro e “má reputação da escola” afastavam os alunos, diziam “que lá só estudavam bandidos”.

Em 2008, tivemos o registro de cerca de 3500 pessoas em participação direta, brincando pelas ruas da Vila Missionária, entorno da escola. Entre alunos, professores, pais e moradores da região, a participação de outras escolas próximas. Não tivemos nenhum registro de brigas.Acrescentamos a saída do “noinha”, cavalinho que saiu à tarde, festa para crianças. O projeto surgiu como iniciativa cultural para harmonizar a imagem da escola diante da comunidade para atrair os alunos do EJA que estudavam no período noturno, senhoras, donas de casa, trabalhadores, a terceira idade, bem como, os jovens que queriam dar continuidade aos estudos, mas que por uma maneira ou de outra acabaram interrompendo. A Festa do CAVALO NÓIA é uma junção das experiências dos alunos em relação às manifestações artístico-culturais de suas origens. Tornou-se um aglomerado cultural por contemplar diversas linguagens e festividades: boi-bumbá, reisado, cavalo-marinho, carnaval de rua, folguedos, São João, quermesse, maracatus, sambas de roda, capoeira e jongos".

*Mediação de Edson Martins Moraes, bibliotecário, pedagogo, mestre em artes visuais pela UNESP e técnico de programação do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

As inscrições podem ser feitas a partir de 25 de março, às 14h, pela Internet ou nas unidades do Sesc em São Paulo.


(Foto: Divulgação)

Palestrantes

Jacson Silva Matos

Jacson Silva Matos

mestre em Artes Visuais – Unesp, e professor da Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo. É articulador do projeto Festa do Cavalo Nóia.

Data

25/04/2014 a 25/04/2014

Dias e Horários

Sexta, 10h às 12h.

Local

Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana
5º andar - Torre A
São Paulo/SP

Valores

R$ 6,00 - comerciários e dependentes
R$ 15,00 - usuários matriculados e dependentes, aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante
R$ 30,00 - inteira

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