Programa
Dia 05/05
Abertura do Ciclo: A poesia e a música em Mário de Andrade
Na fala de abertura do Ciclo Mário de Andrade e a Música, a professora Telê Ancona vai traçar um paralelo entre a poesia e a música na obra do autor de Paulicéia Desvairada.
Com Telê Ancona, professora Titular no Instituto de Estudos Brasileiros onde é pesquisadora na área de Literatura Brasileira. Coordenadora do projeto temático FAPESP, Estudo do processo de criação de Mário de Andrade nos manuscritos de seu arquivo e em sua correspondência, coordena atualmente o projeto de edição das obras completas do escritor.
Mário de Andrade e a etnomusicologia
Quando Mário de Andrade morreu, em 1945, a palavra "etnomusicologia" ainda não havia sido inventada. Isso só aconteceria na década seguinte, os anos 1950. Para muitos etnomusicólogos brasileiros, no entanto, o escritor tem sido uma fonte constante de descobertas e estímulo ao debate. Em especial, as pesquisas que fez sobre a música da região nordeste, primeiro em suas viagens dos anos 1920, e depois através da famosa Missão de Pesquisas Folclóricas que enviou à região em 1938, vêm instigando gerações de pesquisadores. Nesta comunicação, iremos discutir a importância das pesquisas de Mário de Andrade para a etnomusicologia brasileira atual, em particular a que é feita nas universidades da região nordeste.
Com Carlos Sandroni, doutor em Musicologia pela Universidade de Tours, França. É professor-adjunto do Departamento de Música da UFPE desde 2000 e pesquisador do CNPq.
A etnomusicologia na correspondência de Mário de Andrade e Luiz Heitor
Com Pedro Aragão, doutor em musicologia pela UNIRIO, instituição onde atualmente é professor. Atualmente trabalha na edição crítica da correspondência entre Luiz Heitor Corrêa de Azevedo e Mário de Andrade, em parceria com a professora Flávia Toni (USP).
De acordo com o etnomusicólogo Stephen Blum, muito do trabalho que se provou ser decisivo para a formação de uma disciplina chamada etnomusicologia foi feita por membros de duas gerações nascidas entre 1860 e 1880, e 1880 e o começo do século XX. Mário de Andrade e Luiz Heitor Corrêa de Azevedo representam os precursores da disciplina no Brasil e o estudo de sua correspondência em comum revela aspectos ainda pouco explorados sobre o nascimento da etnomusicologia no país. A palestra abordará alguns destes aspectos, enfatizando a influência de instituições e pesquisadores estrangeiros, tais como Alan Lomax e Charles Seeger na trajetória dos dois intelectuais brasileiros.
Mediação de Fernando Binder, doutorando no programa de pós-graduação da ECA/USP, é professor de História da Música, na Escola Municipal de Música.
Dia 06/05
Correspondência de Mário Andrade: pautas para a formação de jovens músicos
A vasta correspondência do escritor modernista Mário de Andrade mostra-se como fecundo espaço testemunhal, ao trazer à tona facetas de sua biografia, de seus processos de criação e os diversos empreendimentos culturais que encabeçou. Entre os projetos do criador de Macunaíma expressos nas cartas, destaca-se o seu empenho na formação crítica de jovens músicos e musicólogos como Camargo Guarnieri e Oneyda Alvarenga, tema central da palestra.
Com Marcos Antonio de Moraes , professor de literatura brasileira no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Dedica-se ao estudo da epistolografia de escritores; prepara a edição da Correspondência reunida de Mário de Andrade.
Cartas de Luciano Gallet e Mário de Andrade
A correspondência de Mário de Andrade e Luciano Gallet abrange período importante (1926/1931) na pesquisa dos dois amigos que discutem a criação de obras, ensaios e artigos para jornais e revistas. Às vésperas do primeiro mandato de Getúlio Vargas, os intelectuais discutem também a maior participação do artista na sociedade e o papel do professor de música nas instituições públicas e órgãos de classe.
Com Flávia Camargo Toni, Professora Titular e musicóloga do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP).onde se dedica à pesquisa nos acervos da instituição voltados para o modernismo.
Mediação: Camila Fresca, doutora em musicologia pela ECA-USP. É coordenadora musical da rádio Cultura FM e colaboradora do site e Revista Concerto.
Dia 07/05 – Café: entre o romance e a ópera
Café: o Libretto
Discussão de uma das obras mais importantes da produção madura de Mário de Andrade, o libreto de Café [1933-42], ópera em que se encena a eclosão de uma revolução popular em São Paulo, no contexto da crise da economia cafeeira. A palestra enfocará as tensões artísticas e políticas que atravessam o texto Márioandradino, em particular a coexistência de intenção histórica e salto metafísico. Essas contradições serão estudadas sob perspectiva histórica, tendo em vista compreender os vínculos entre a ópera de Mário e o momento histórico em que ela foi escrita.
Com Pedro Fragelli, doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo. É pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, onde realiza uma pesquisa de pós-doutorado sobre a ópera Café, de Mário de Andrade.
Café: o Romance
O trajeto da criação do romance Café estende-se dos anos 1920 até a morte de Mário de Andrade, em 1945, quando, depois de vários períodos de interrupção, a obra fica inacabada. O manuscrito compõe-se de numerosas notas de trabalho, planos, esquema, esboços e versões com muitas etapas de redação. Apesar de apenas dois dos cinco capítulos planejados terem chegado a versões de texto, o título está nas listas de obras em preparo nas edições lançadas pelo autor a partir de 1930, mesmo ano, aliás, em que o público conhece dois excertos nas revistas cariocas Illustração Brasileira e Movimento Brasileiro. Em 1943, uma parcela dos documentos do processo de criação é transformada na série “Vida do cantador”, na Folha da Manhã, em São Paulo. No início da década de 1940, outra parcela de Café, explorando uma revolução, transforma-se no mote da ópera homônima.
Com Tatiana Longo Figueiredo, doutora pela FFLCH-USP, com pós-doutorado no IEB-USP. Tem, no prelo, a edição de Café, romance inédito do escritor. Ao lado de Telê Ancona Lopez responsabilizou-se pela edição de Macunaíma e de Poesias completas.
Mediação: Luciana Barongeno doutora em Música (2014) pela ECA/USP. Tem se dedicado ao estudo da obra de Mário de Andrade com ênfase na estética modernista.
Dia 08/05
Mário de Andrade, modernismo e samba rural
Ler a obra de Mário de Andrade é também acompanhar seu imenso esforço na direção de integrar um conjunto estável das coisas brasileiras: reunir a música nacional, suas danças, sua representação cênica, sua ligação com a religião; coletar receitas culinárias e medicinais; coletar ditos, ditados e expressões; causos, contos e anedotas; produzir crítica, poesia, romances, contos... Seus estudos sobre o samba rural paulista fazem parte desse imenso projeto, sendo também um modo de reflexão sobre a posição de São Paulo no país, e do Brasil no mundo.
Com Enrique Menezes, flautista e compositor, é doutorando em musicologia pela Universidade de São Paulo.Como intérprete tem acompanhado, entre outros, Dona Inah, Monarco, Verônica Ferriani e Toninho Ferragutti.
Samba rural e etnografia
Em sua gestão como diretor do Departamento de Cultura de São Paulo, Mário de Andrade procura, junto a Dina Dreyfus e Claude Lévi-Strauss, estabelecer uma instituição de pesquisa fundada nos parâmetros e práticas mais recentes da etnografia e do folclore, fundando a Sociedade de Etnografia e Folclore (1937-1939). O texto de Mário "O samba rural paulista" condensa essa iniciativa ao procurar fazer um trabalho exemplar de investigação sobre a cultura negra do estado de São Paulo, utilizando-se dos recursos trazidos pelo casal Lévi-Strauss e reagindo a debates teóricos colocados no Brasil e no mundo.
Com Luísa Valentini, mestre em antropologia social pela USP e autora do livro Um laboratório de antropologia: o encontro entre Mário de Andrade, Dina Dreyfus e Claude Lévi-Strauss.
Mediação: Eduardo Sato realiza seu mestrado no IEB-USP pesquisando as críticas musicais de Mário de Andrade.
Palestrantes