Por que ler a Odisseia de Homero? Odisseu e a fase heroica da existência humana

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Quais são os estratos culturais da prosa homérica? Quais são as principais técnicas de construção narrativa empregadas na obra?

Um dos mais antigos personagens andarilhos de que se tem notícia é o rei de Ítaca, Odisseu, protagonista da épica homérica que leva seu nome, Odisseia. A obra - muito possivelmente concebida entre 800-900 a.C. - é fundamentalmente um poema de regresso, do nostos grego que nos legou a palavra "nostalgia", isto é, a dor produzida pela vontade de retornar. Marido leal, eterno viajante, anti-herói, Odisseu usa disfarces e estratégias para voltar ao lar, não sem antes conhecer inúmeras paragens fantásticas, romanescas ou naturais.

A ilha dos ventos, a morada dos mortos, a terra de Circe e o país dos feácios são apenas algumas das estações do longo percurso traçado por um personagem que também testemunha a transição do cru para o cozido, da barbárie para a civilização.

A palavra que abre o poema no original grego é "homem" (o que leva a tradução dos dois primeiros versos de Homero a algo como "Do homem astuto que tanto vagueou fala-me, Musa") e, a partir dessa clara enunciação, uma larga concepção do que seja o espírito humano se desdobra aos olhos do leitor.

Portador de um autêntico espírito de luta, matizado por uma vivaz curiosidade pelo desconhecido e um profundo interesse pelo mundo à sua volta, Odisseu, a cada nova estação percorrida, vai deixando para trás o mundo da fantasia e da magia, a fim de confrontar sua natureza verdadeiramente humana.