Aquilombar deriva da palavra quilombo, que por sua vez é originária da língua umbundu, da região da atual Angola e disseminada no Brasil pelos povos bantu.
Em seu local de origem, a palavra designava acampamento ou local fortificado. No Brasil, foi utilizada a partir de 1681 para se referir a locais que abrigavam pessoas escravizadas fugitivas dos cativeiros. Ao longo de todo o período escravagista os quilombos se multiplicaram de norte a sul do país, sendo o mais famoso deles o Quilombo dos Palmares. Um de seus líderes, Zumbi, segue sendo relembrado e celebrado como símbolo da resistência negra. O dia 20 de novembro, data da morte do líder palmarino, foi escolhido como Dia da Consciência Negra, momento de reflexão sobre a condição da população negra brasileira e de renovação da luta contra o preconceito racial e suas consequências.
Após a abolição da escravatura o vocábulo ganhou novos significados.
Passamos a utilizar comunidades quilombolas ou remanescentes de quilombos para nos referir a coletividades negras residindo em territórios ocupados por pessoas negras desde o período da escravidão e que “se identificam por laços comuns de africanidade, reforçados por relações de parentesco e compadrio” . Mas as ressignificações da palavra quilombo não pararam por aí: na contemporaneidade jovens ativistas negros vêm utilizando com frequência o termo aquilombar para designar a reunião de pessoas negras para diversos fins, sejam eles de luta, estudos, lazer ou afeto. Aquilombar, dessa forma, é um ato de união e fortalecimento da comunidade negra a fim de resistir à violência racial que se manifesta de maneira plural e disseminada.
Nesta edição do Em Debate, preparamos, para os meses de março e abril, um conjunto de atividades focadas em processos de aquilombamento e resistências.
Abordamos as diversas estratégias de resistência adotadas pela população negra, mas também buscamos compreender como outros grupos sociais discriminados, como indígenas, ciganos, LGBTTQIA+, mulheres, minorias religiosas e outros se mobilizam diariamente para enfrentar as inúmeras adversidades impostas por um sistema que os agride e marginaliza.
Confira a programação de Março, que já está com as inscrições abertas:
Pancadão: uma história da repressão aos bailes funk de rua na capital paulista
12/3
Quarta, 19h30 às 21h30
Grátis
A palestra, sobre o relatório "Pancadão: uma história da repressão aos bailes funk de rua na capital paulista", discute em que momento os bailes funk de rua se tornaram um problema público; de que maneiras eles foram sendo enquadrados como um objeto de intervenção das instituições; quando se tornaram tema de debates eleitorais.
Com Desirée de Lemos Azevedo e Danylo Amilcar.
(po)éticas dos arquivos fotográficos em perspectiva (on-line) afrodiaspórica
17/3 a 31/3
Segundas e Quartas, 15h às 17h
R$60, R$30 e R$15.
O curso visa refletir sobre as estratégias políticas, éticas e criativas postas em prática em diversos trabalhos artísticos fotográficos, bem como sobre o conhecimento implicado nessas produções.
Com Marina Feldhues.
Governo Trump, Supremacia Branca e o Debate Racial no Brasil
21/3
Sexta, 15h às 18h
Grátis
O mundo se encontra em alvoroço com as declarações do atual presidente dos Estados Unidos sobre o fim dos programas de diversidade e inclusão tanto nas empresas, como nos setores públicos do país. Empresas importantes como a Walmart, Ford, John Deere, Amazon e agora, mais recente, Meta, estão no processo de abandonar os programas de diversidade, dando início a uma nova fase de conservadorismo e reforço da ideologia supremacista branca americana.
A palestra aqui proposta tem como objetivo analisar como a narrativa supremacista do atual governo Trump impacta o debate racial no Brasil por meio da normalização de discursos ultraconservadores e da influência midiática sobre o tema. Discutiremos como a retórica trumpista amplia o espaço para a negação do racismo estrutural e reforça a polarização negativa do discurso público sobre raça e racismo no Brasil. O cenário atual exige atenção, vigilância e mobilização contínuas para assegurar que as ações afirmativas cumpram seu papel de promover a igualdade. Para isso, precisamos compreender a influência do governo Trump no debate racial brasileiro e as conexões com a supremacia branca.
Com Ana Helena Ithamar Passos e Joyce Maria Rodrigues.
Maria Firmina dos Reis: mulheres e poder no Brasil
21/3
Sexta, 18h30 às 20h
Grátis
Maria Firmina dos Reis (1825-1917) foi uma mulher incrível, daquelas tão improváveis, mas só possíveis de existirem no século XIX. Ela viveu por 92 anos e, assim, atravessou quase um século assistindo a impérios caírem, repúblicas se erguerem e quilombos a afrontá-los. Maria Firmina presenciou os horrores da escravidão desde a infância, pois era neta de uma africana alforriada e filha de uma mestiça "forra", mas também pôde cantar em hinos as liberdades sobrevindas da abolição. Portanto, ela testemunhou intimamente o processo de violência do sistema social de transformação compulsória de pessoas negras africanas - e de sua descendência - em "cidadãos brasileiros" do pós-abolição.
O presente livro de Régia Agostinho da Silva é o "resultado presente" da sua tese de doutorado, defendida em 2013, na Universidade de São Paulo (USP).
Vocês farão, sem dúvida, um intenso e profundo mergulho - proporcionado pela historiadora admirável que é Régia Agostinho da Silva - na história da vida e do tempo dessa intelectual insurgente e dessa artista potente e pioneira da cena cultural brasileira que foi Maria Firmina dos Reis.
Neste encontro de lançamento do livro "Maria Firmina dos Reis: mulheres e poder no Brasil" a autora Régia Agostinho conversa com o público sobre seus estudos que resultaram na obra e autografa exemplares.
Com Régia Agostinho.
Discursos de Ódio: o racismo reciclado nos séculos XX e XXI
22/3
Sábado, 15h às 17h
Grátis
O livro analisa como discursos de ódio, disseminados via internet e favorecidos pela fragilidade das democracias, incitam o preconceito e a violência contra ciganos, judeus, indígenas, dentre outras minorias, evidenciando que a falta de legislação nas redes sociais e a desinformação incentivam falas e práticas violentas disfarçadas de liberdade de expressão.
Com Maria Luiza Tucci Carneiro, Elias Saliba e Marcos Toyansk.
Nas imaginações e brincadeiras dos meninos ciganos Calon
22/3
Sábado, 11h às 13h
Grátis
Apresentação do livro "Nas imaginações e brincadeiras dos meninos ciganos Calon" que aborda as brincadeiras num acampamento cigano. A história celebra a cultura Calon e mostra a riqueza do cotidiano das crianças, destacando a importância de conhecer e respeitar suas tradições.
Com Maria Marques.
Mulher, Yabas bailam em ti
25/3
Terça, 11h às 17h30
R$50, R$25 e R$15
Nesta imersão, as pessoas participantes terão a oportunidade de conhecer e vivenciar elementos das histórias das yabas Oxum, Oba e Oya, divindades femininas de matriz africana, em intersecção com histórias cotidianas de mulheres brasileiras.
Com Solange Machado.
Aquilombação, Desnorteamento e Antimanicolonialidade
28/3
Sexta, 15h às 21h
R$50, R$25 e R$15
As relações entre saúde mental e racismo, interseccionado à gênero e classe, e os dispositivos de produção de saúde mental antirracista.
Com Bárbara dos Santos Gomes, Emiliano de Camargo David, Maria Cristina Gonçalves Vicentin e Márcio Farias.
(Foto: John Locher)