A produção cultural e intelectual que se consolida no interior de nossa sociedade se organiza a partir do reconhecimento de determinados valores e referências em detrimento de outras formas de relação e compreensão do mundo. Enquanto um grupo socialmente estabelecido estrutura as suas ideias como eixos organizadores de um modo de vida, ao mesmo tempo, este desloca para as margens diversas práticas culturais e grupos sociais.
O sociólogo alemão Norbert Elias, em seu clássico estudo "Os estabelecidos e os outsiders", analisou a dinâmica de convivência entre dois grupos relativamente homogêneos, numa pequena comunidade situada na Inglaterra, e destacou as tensões geradas pelos processos de diferenciação social instaurado pelos antigos moradores (estabelecidos) contra os novos residentes (outsiders).
As categorias de análise mobilizadas por Elias, embora centradas no universo de uma comunidade específica, nos possibilitam compreender os múltiplos significados das relações de poder em diferentes contextos sociais. Ou seja, uma reflexão ampliada sobre as categorias definidas pelas figurações: estabelecidos e outsiders pode contribuir para a análise de processos de distinção, marginalização, assim como de resistência, tanto no âmbito da vida de diversos grupos sociais, quanto na esfera de produção artístico-cultural concebida por múltiplos sujeitos. Dentro deste cenário, destacam-se os grupos sociais que, ao assimilarem criticamente os processos de marginalização, desenvolvem repertórios culturais, identitários e políticos que afirmam a resistência como meio para transformar a sua condição e realidade.
Com base neste quadro de ideias, o "Em Debate" dos meses de julho e agosto propõe uma reflexão sobre o universo das relações sociais e das produções artístico-culturais que historicamente se defrontaram com processos de silenciamento e marginalização, mas que desenvolveram diferentes formas de resistência e engajamento como meio para assegurar o reconhecimento e visibilidade de suas proposições artísticas, tradições culturais e identidades sociopolíticas.
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