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Modernidade Gasosa
Foucault em Dose Dupla

Modernidade Gasosa

Modernidade Gasosa


Por Flavia Prando

Estivesse vivo, o filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017) poderia, quem sabe, apontar o terceiro estado da modernidade: a gasosa.
Se nós tínhamos a percepção de que relacionamentos, ideias e instituições escorriam entre nossos dedos, incapazes de manter sua forma frente à fragilidade moderna, nas últimas semanas, passamos a ter a nítida sensação de que elas podem evaporar, feito gás, e, sinceramente, isto não cheira nada bem...
Muitos viram seus projetos esvaneceram antes de tomar forma, empregos evaporaram no ar. De um dia para o outro fomos obrigados a desmaterializar e transformar fazeres. Atiramo-nos, muitas vezes sem boias, em um mar cibernético que pouco conhecemos, invadindo saberes e territórios alheios.
Se a modernidade ficou gasosa, os estímulos estão cada vez mais sólidos e onipotentes. Nossa vida privada parece ter sido outro conceito que evaporou. Afinal, qual o limite do home office? Das webconferências? Dos grupos de whatsapp? Fica a cargo do bom senso individual, ou teremos que criar uma nova ética para que possamos interagir sem constranger, propor sem invadir, trocar sem exaurir?

As formas de controle da liberdade, em tempos em que o panóptico é a produtividade, deixarão espaço para que despertem em nós as percepções que nos permitirão não comprar "gato por lebre" e nos ajudarão a separar o "trigo do joio" para que possamos, de fato, construir alternativas efetivas para esse novo momento?
Com nossas realidades reduzidas ao mundo virtual, interagir deixou de ser opção. Quando não curtirmos ou não comentamos cada informação, seja via whatsapp, instagram, facebook ou tweeter, temos a nítida impressão de que vamos evaporar no ar. Mas quem estará construindo densidade palpável neste inebriante gás etéreo, se estamos o tempo todo curtindo, comentando e compartilhando? Há lugar para materialidade e aprofundamento neste mundo gasoso? Não seriam estas formas de interação meros instrumentos de poder que nos impõem uma necessidade de exposição, gerando uma produção vazia e inócua, viabilizando assim a manutenção das tradicionais formas de controle?

Urge, portanto, cada vez mais, que surjam reflexões e debates sobre liberdade, controle, ética, micropoder, biopolítica, entre tantas outras. Por esta razão, o #culturaonline desta semana separou dois cursos sobre o filósofo Michel Foucault, realizados no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc SP.  As aulas apresentam diversas abordagens feitas por diferentes profissionais, para que possamos adquirir mais ferramentas críticas para fazer frente às novas formas de manifestação de poder que vêm despontando nesta pandemia.

Perspectivas Foucaut: a liberdade e a ética

Encontro 1.

Encontro 2.

Encontro 3.

Encontro 4.

Encontro 5.

Ciclo Michel Foucault

Encontro 1.

Encontro 2
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Encontro 3.

Encontro 4.

* Flávia Prando é Doutoranda em música (ECA/USP), violonista e pesquisadora do Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc SP.