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Revista do CPF "Turismo e relações de trabalho: panoramas e desafios"
Turismo e relações de trabalho: panoramas e desafios

Revista do CPF "Turismo e relações de trabalho: panoramas e desafios"

Ao longo de seus 75 anos de trajetória, o Sesc desenvolveu uma concepção expandida de educação, na qual experiências variadas engendram especulações teóricas e vice-versa. A Revista do Centro de Pesquisa e Formação tem funcionado, nos últimos anos, como importante plataforma para esses trânsitos.

A publicação da edição especial “Turismo e relações de trabalho: panoramas e desafios” insere-se nessa perspectiva, tendo se construído a partir das reflexões realizadas durante a 4ª edição do ciclo de debates e encontros denominado Ética no Turismo (2019). Naquela oportunidade, pesquisadores, trabalhadores e público refletiram acerca de uma leitura desse contexto no Brasil e no mundo, buscando compreender em que condições estão imersos os trabalhadores do setor.

À crescente importância do tema, somou-se um aspecto crucial – a crise sanitária causada pela pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) –, o que reforçou a necessidade de se compreender o contexto dessa atividade como parte fundamental do exercício da imaginação de outros presentes, bem como de futuros possíveis.

Ao colocar em debate o trabalho no turismo, o Sesc pretende ampliar a discussão sobre um assunto cuja complexidade torna-se cada vez mais evidente. Subjaz a esse empenho a convicção de que discutir a atividade turística no presente adquire uma importância que ultrapassa as fronteiras desse campo, ajudando as pessoas a refletir sobre o próprio exercício da cidadania na contemporaneidade.

No prefácio, Ernest Cañada, coordenador do Alba Sud, associação catalã, nos aponta as difíceis perspectivas que desafiarão o setor durante e após o período pandêmico.

No artigo “Trabalhadores sem destino: uma análise preliminar dos impactos da pandemia à classe trabalhadora do turismo”, Angela Teberga, professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT), analisa os impactos econômicos imediatos e os efeitos diretos à saúde desses trabalhadores desencadeados pela pandemia da COVID-19.

Em “Turismo na sociedade de serviços e no tempo da globalização”, Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Universidade Estadual de Campinas, reflete sobre o turismo como atividade econômica e setor gerador de trabalho e renda.

Em “Desenvolvimento econômico regional e turismo: interseções possíveis”, Diomira Maria C. P. Faria, professora do curso de Turismo do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa, com base em um estudo de caso, a relação do desenvolvimento econômico com o turismo a partir do território, sublinhando importantes questões quanto ao planejamento dessa atividade.

Docente do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), Rita de Cássia Ariza da Cruz analisa, no artigo intitulado “Trabalho no turismo: reflexões acerca do caso brasileiro”, as transformações históricas que o mundo do trabalho vem passando para, dessa forma, realizar uma reflexão crítica sobre o turismo na contemporaneidade.

Em “Turismo e Trabalho no Brasil: o perfil da força de trabalho ocupada no turismo brasileiro no contexto contemporâneo de flexibilização das relações de trabalho”, Paulo Fernando Meliani, geógrafo, professor Adjunto da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), analisa o impacto de ações de flexibilização das relações de trabalho, que podem reforçar a precariedade do trabalho no setor.

Daniela Moreno Alarcón, pesquisadora sênior e consultora interna- cional, propõe em seu artigo “Turismo e gênero na agenda 2030 para um trabalho digno” novos horizontes no que se refere ao trabalho digno, com atenção a igualdade de gênero e crescimento econômico sustentável.

Em “Saúde e adoecimento no mundo do trabalho em Turismo”, Kerley dos Santos Alves, professora de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), examina a percepção dos trabalhadores do turismo sobre o sofrimento psíquico e sua relação com o trabalho, a partir de grupos focais com guias de turismo, agentes de viagem e trabalhadores dos meios de hospedagem.

Em “Artesanato: cultura material e mercado em destinos turísticos”, Maíra Fontenele Santana, especialista em Gestão Pública e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins, expõe a relação do artesanato com espaços turísticos e os desdobramentos em relação à cultura material e o mercado.

Em “Turismólogos à deriva: as lutas pela regulamentação profissional no mar revolto do mercado”, Rodrigo Meira Martoni, professor na Escola de Direito, Turismo e Museologia da Universidade Federal de Ouro Preto, aborda as tentativas de regulamentação da profissão de turismólogo, assim como o reflexo disso para a atuação do profissional e do desenvolvi- mento da pesquisa crítica no Turismo.

Esse conjunto de artigos permite jogar luz sobre as delicadas articulações que a atividade turística estabelece com o mundo contemporâneo, a partir de um vetor central: o trabalho. Trata-se de reconhecer nessa atividade a densidade que, por vezes, a fruição dos viajantes tende a ocultar, mas que se impõe na experiência de boa parte dos envolvidos. Pensar a realidade por meio dessa rede de articulações significa um empenho do Sesc em conciliar reflexão e prática, estimulando os leitores a mergulhar nessas tramas e indagar como elas enredam a todos nós, eventuais turistas.


Danilo Santos de Miranda
Diretor do Sesc São Paulo

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