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Habitar Fronteiras
Novas possibilidades de se pensar a produção de saúde no contemporâneo

Habitar Fronteiras

Independente de qualquer visão reducionista da saúde que ainda possa prevalecer e que faça dela um simples antônimo da doença e fenômeno restrito às dimensões orgânicas e biológicas, o fato é que o conceito de saúde passou por profundas transformações ao longo do último século, que fizeram dele um conceito cada vez mais abrangente. Essa ampliação possui sua mais clara expressão na evolução dos conhecimentos e consensos a respeito do que determina nosso estado de saúde, bem sintetizado no processo político e científico pelo qual se reconhece a determinação social do processo saúde-doença-cuidado. Esse processo redefiniu o campo de abrangência do debate sobre a saúde e os meios para sua conservação e recuperação, contribuindo para um conceito ampliado de saúde que, em última instância, engloba a própria noção de bem-estar (biopsicossocial). Evidentemente, é neste território ampliado da saúde que nos situamos e é também a partir dele que podemos começar a nos deslocar.

Territórios ampliados implicam em fronteiras ampliadas com outros territórios. O ciclo de encontros “Habitar Fronteiras” pretende explorar algumas dessas grandes fronteiras abertas pela ampliação do território da saúde, quiçá suas maiores: com os territórios da arte e da cultura.

Entre outros efeitos, a ampliação da superfície de contato entre esses diferentes mundos intensifica o comércio de ideias, conceitos, ferramentas e objetos, que passam a transitar através das fronteiras e a constituir uma espécie de mundo híbrido comum, vasto o bastante para se constituir, em si, num território; habitável. Não um território de fronteira, mas um território na fronteira. A fronteira como um território e um território não apenas habitável, mas habitado, intensamente habitado, tanto mais quanto se amplia a percepção e o entendimento de que os principais fenômenos vitais de importância para a saúde humana no mundo contemporâneo estão profundamente implicados em processos de comunicação e cultura e demandam, para o seu manejo, “ferramentas culturais”.
   
Como já dissemos, isso não começou ontem, mas é o traço distintivo das concepções e das práticas de saúde que se consolidaram nas sociedades ocidentais e em boa parte do mundo globalizado, ao longo do século XX. O território da saúde, no último século, tem sido marcado pela importância crescente das chamadas doenças ligadas ao “estilo de vida” e pela problemática da mudança de “estilo de vida”, o que não se faz sem ampla mobilização de “ferramentas culturais”, para utilizarmos uma expressão que nomeie do modo mais genérico todos os tipos de tecnologias e estratégias mobilizadas, fazendo referência à natureza dos seus produtos e objetos de intervenção: informações, conhecimentos, emoções, conversações, relações, formas de relação, formas de vida, comportamentos, práticas culturais, cultura.

Independente de qualquer visão reducionista da produção que ainda possa prevalecer e que insista em restringi-la à análise econométrica (o que, na área da saúde, reduz a noção de produção a uma dada gama de bens e serviços mercantilizáveis), o fato é que a noção de produção também passou por profundas transformações ao longo do último século, de tal forma que a produção contemporânea se fez, cada vez mais, atividade carregada de interação linguística, de ethos, de cultura. E é nessa perspectiva que pretendemos abrir, com este ciclo de encontros, um espaço privilegiado para explorarmos novas possibilidades de se pensar a produção de saúde no contemporâneo, reconhecendo as fronteiras entre saúde, arte e cultura como um território híbrido, habitável e efetivamente já habitado por conhecimentos e práticas
singulares, que se oferecem como um território de estudo e pesquisa.


O ciclo está subdividido em 4 blocos temáticos reunindo diferentes atividades independentes:

- Saúde e Mídia; (Inscrições abertas)
- Saúde, Arte e Clínica; (Inscrições a partir do dia 28/1)
- Saúde e Territórios do Comum(Dia 31/03 - inscrições a partir de 26/02); Dias 07 e 14/04 - inscrições a partir de 26/03);
Saúde e Inteligência Coletiva. (Dias 09, 16 e 23/05) - Inscrições para o curso no site prevista para 28/04.