O aumento da urbanização é um dos principais aspectos do contínuo processo de reordenamento territorial que acontece em todo mundo. É na urbe das cidades pequenas, médias e das metrópoles que a moradia se coloca entre os principais temas no que toca as reflexões sobre as sociedades contemporâneas.
Ano após ano, as questões ligadas à moradia se tornam mais complexas. Como exemplo desse cenário, índices apontam existirem mais moradias ociosas que desabrigados, propondo uma conta “fácil de ser fechada”. Em favor da resolução dessa equação estaria o Estatuto da Cidade, sancionado em 2001 pelo Governo Federal. A lei regulamenta o capítulo da constituição brasileira que se atém às políticas urbanas. Nela estão afirmadas, enquanto pautas basilares, a função social de propriedades e a importância do orçamento participativo como instrumento para a organização de quais são as ações prioritárias para as cidades.
Porém, tais normativas não conseguiram realizar até o momento efetivas mudanças. Nesse contexto, multiplicam-se exponencialmente moradias precárias que culminam em fatos como o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, em 1º de maio desse ano.
Compreendemos que a construção do território se dá como um conjunto inseparável entre a materialidade e as ações humanas, que desembocam na formação do tecido social. Neste âmbito, os indivíduos e a coletividade se relacionam produzindo tensões, disputas, visibilidades e apagamentos. Pensar a problemática da habitação se torna premente.
Diante desse panorama, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, nos meses de setembro e outubro, busca refletir e colocar em debate a questão da moradia em suas dimensões política, cultural e espacial, assim como a influência desse tema no campo das artes.
Confira a programação:
Atividades de Setembro - Inscrições Abertas!
4/9 a 25/9
Mapas e sistemas de visualização de dados da cidade (Esgotado)
As cidades contemporâneas produzem informações em escala e velocidade vertiginosas: dados de GPS, transações financeiras, mensagens trocadas, crimes, incidentes de trânsito. Em paralelo, crescem a capacidade técnica para processar esses dados e sua utilização por governos e pela indústria.
Neste curso iremos problematizar os aspectos técnicos da produção e utilização de dados urbanos, assim como seus impactos éticos e sociais. Quem são os produtores e detentores desses dados? Como eles moldam conhecimentos, políticas e, consequentemente, dão forma à cidade material?
Com Bernardo Loureiro.
13/9 e 14/9
Desregulamentação urbanística na cidade neoliberal (Encerrado)
O curso aborda as novas configurações urbanas a partir do colapso dos procedimentos modernistas nos contextos internacional e brasileiro.
Será apresentado um painel da condição das cidades no Brasil para refletir sobre a construção do estatuto da cidade e a atual situação de desregulamentação urbanística.
Com Jorge Bassani.
18/9
Migrações na Cidade: a construção da Metrópole em São Paulo
Apresentar e discutir as dinâmicas dos fluxos migratórios na cidade de São Paulo, tanto da perspectiva histórica como na dinâmica atual dos deslocamentos populacionais que se dirigem e se fixam no tecido urbano paulistano. Demonstrar como tais dinâmicas marcam profundamente a distribuição populacional no espaço urbano de São Paulo, como os grupos migrantes se sucedem e buscam inserção na sociedade brasileira, processos históricos, econômicos, sociais e culturais que se expressam na organização espacial da cidade.
Com José Renato de Campos Araújo.
20/9
Prédios Ícones da Cidade de São Paulo: dois olhares que conversam
Uma conversa entre o arquiteto Leandro Medrano e a historiadora Silvana Rubino sobre os edifícios da cidade de São Paulo. Os dois dialogam, com diferentes olhares, acerca de prédios ícones e destacam aspectos arquitetônicos e históricos que singularizam perante a população.
Com Leandro Medrano, Silvana Rubino e Tania Rivitti.
21/9
A relação entre as condições de moradia e o desempenho escolar
Apresentação da pesquisa realizada com crianças residentes em cortiços no centro de São Paulo que examina a relação entre as condições da moradia e o desempenho escolar dessas crianças. A apresentação traz ainda sugestões para as políticas públicas de moradia popular no centro da cidade e para a política da educação.
Com Luiz Kohara.
27/9
Breve história das favelas e a questão da urbanização das cidades
A palestra discorre sobre as dimensões atuais da questão das favelas no mundo. Apresenta a origem dos slums nos séculos XVIII e XIX, e o surgimento das favelas no Brasil. Tece um breve relato sobre o aparecimento das cidades na história do homem apontando exemplos de espacialização e de ocupação do território em cidades antigas e a dinâmica das favelas atuais no Brasil para problematizar as chamadas "sociedades de afluência".
Com Luis Kehl.
Atividades de Outubro - Inscrições a partir de 26 de Setembro, às 14h, aqui no site do Centro de Pesquisa e Formação ou nas Unidades do Sesc em São Paulo.
4/10
Ressignificação da cidade: Arte e ocupação no Hotel Cambridge
A palestra reflete sobre como os profissionais de arte contemporânea se engajam com noções de desobediência epistêmica e com a produção de conhecimento para propor uma ressignificação da cidade a partir do caso da residência artística realizada na ocupação habitacional hotel Cambridge.
Com Alex Ungprateeb Flynn.
15/10
A Casa 1 e o Acolhimento de LGBTs
A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação. Além da república de acolhida para pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsas de casa por suas orientações afetivas sexuais e identidades de gênero, o projeto é também um centro cultural. Nesta palestra, o idealizador e organizador da Casa 1, Iran Giusti, apresenta um pouco do histórico e processo de implementação do projeto e atuais desafios para continuidade, assim como a interseccionalidade que rege a Casa 1. A ideia é trabalhar como um estudo de caso, onde o público utilize as experiências para os próprios projetos.
Com Iran Giusti.
15/10 a 12/11
Moradia popular no centro: alternativas à propriedade privada
As políticas habitacionais são quase exclusivamente baseadas na promoção da propriedade privada e, mesmo quando beneficiam os mais pobres, não garantem sua permanência. Desnaturalizando a propriedade privada como modelo único para as políticas e práticas habitacionais, o curso busca enriquecer o debate sobre a moradia nas grandes cidades brasileiras.
Com Anderson Kazuo Nakano, Carmen da Silva Ferreira, Gustavo Calazans, Marina Mange Grinover, Simone Gatti e Renato Cymbalista.
22/10
Gestão e Vivência de Velhices em Repúblicas de Idosos
As repúblicas obedecem à ideia de casas compartilhadas por estranhos que remetem a uma condição específica comum a todos. No caso das de idosos, ter sessenta anos ou mais, como o Estatuto do Idoso (2003) define para o contexto nacional, é a condição tácita. É assim que a política habitacional, alternativa ao antigo modelo de asilamento, ganha contornos e oferece novas possibilidades de experimentar as velhices e dialoga diretamente com o cenário mais amplo acerca dos sentidos em torno de se envelhecer. Esta palestra explorará tais questões, tendo como referência uma etnografia realizada nas repúblicas de idosos de Santos (SP), de 2003 a 2006.
Com Glaucia S. Destro de Oliveira.
22/10
Uma cidade para a população que envelhece
A população de idosos está aumentando, isto já é fato constatado em pesquisas. O desafio que se apresenta é o de transformar a cidade para uma acessibilidade ampla. O que garantir? Faz-se fundamental, por exemplo, debater e desenvolver políticas públicas para garantir que os diversos espaços da cidade permitam a adaptação de qualquer indivíduo. Nesta palestra serão discutidos parâmetros que podem garantir que a cidade seja um espaço também para a população que está envelhecendo.
Com Adriana de Almeida Prado.
25/10 a 26/10
Morar em movimento: repensando casa e família
Esse conjunto de mesas apresenta resultados oriundos de investigações etnográficas e bibliográficas sobre modos de morar. Com ênfase em construções coletivas de casas, e buscando uma construção conjunta do conhecimento, as exposições terão em comum provocar desestabilizações nos estudos canônicos sobre a casa e as lutas por moradia na cidade de São Paulo a partir dos achados de pesquisa de cada pesquisador(a).
Mesa 1: Descolonizando a casa: raça, gênero e moradia em São Paulo.
Com Stella Paterniani e Gustavo Belisário.
Mediação de Carlos Filadelfo.
Mesa 2: Famílias, casa e rua: experiências a partir de movimentos sociais.
Com Carlos Filadelfo e Vinícius Spirao.
Mediação de Stella Paterniani.
(Foto: Ricardo Iannuzzi)